O mês de novembro chegou e com ele temos o grande objetivo de conscientizar a sociedade sobre o que de fato significa a prematuridade e todos os seus efeitos a curto e a longo prazo para todos os envolvidos, sejam eles o próprio bebê, a família, a equipe de saúde ou a nossa sociedade.
Sim! É urgente dialogarmos sobre a prematuridade e todos os seus envolvidos. Porque a prematuridade não significa apenas ter um bebê que nasceu antes das 37 semanas gestacionais e que necessitará, apenas, de um aporte tecnológico para se nutrir e para ganhar peso.
Ahhh… se a prematuridade significasse apenas crescer e ganhar peso, a realidade de muitas crianças e famílias seria muito diferente.
A realidade da prematuridade precisa ser dialogada desde que a mulher se torna uma gestante. Infecção de urina, hipertensão, incontinência ístmico cervical, trombofilia, cólicas frequentes, dores inesperadas, inchaços, históricos de abortos, perdas gestacionais e partos prematuros não podem passar despercebidos por uma equipe médica que realiza o pré- natal de uma gestante.
Sabemos o quanto a gravidez não é uma doença, mas sabemos também o quanto ela deve ser acompanhada com rigor, ética e respeito. Exatamente, porque uma simples dor de estômago pode não significar ansiedade… uma simples dor de coluna pode não significar um sintoma normal da gestação… são tantos sinais de alerta que as gestantes sinalizam para as equipes médicas e que são diagnosticados erroneamente ou que passam despercebidos, como se fossem sinais normais da gestação, que eu ficaria aqui escrevendo páginas e páginas sobre isso.
A grande questão é a que a prevenção de muitos nascimentos prematuros está intimamente ligada com a qualidade de assistência prestada à gestante em seu pré- natal. Infecção de urina não detectada, por exemplo, é uma das grandes causas de parto prematuro e que poderia facilmente ser tratada após um exame de urina e sangue, com o diagnóstico e tratamento correto.
Já para nós que somos pais de prematuros ou gestantes de alto risco e que necessitam ficar de repouso ou internadas para segurarmos por mais algumas horas, dias, semanas ou meses o nosso bebê em nossos ventres, a prematuridade, especialmente a extrema, é uma vivência emocional intensa, caracterizada como um momento de crise que esgota as nossas reservas emocionais.
Sentimos muita angústia, medo, ansiedade, tristeza… tudo junto e misturado com doses diárias de esperança, fé, amor e otimismo. É uma intensidade de sentimentos que choramos muito diante do difícil quadro clínico de nossos filhos e, ao menor sinal de alguma melhora, sorrimos como se nenhuma lágrima, jamais, estivesse escorrido em nossas faces. Ficamos à flor da pele… porque viver em uma UTI Neonatal é experimentar um ambiente de montanha-russa caraterizado por uma profunda instabilidade clínica de nossos filhos, com melhoras e pioras inesperadas.
É experimentar todos os dias um intenso estresse emocional e físico pela falta de contato com o nosso bebê por um tempo prolongado e indeterminado. É sentir uma total sensação de impotência por não sabermos o que vai acontecer com o nosso bebê. É ter um coração partido por ir para casa, sem os nossos filhos em nossos braços. É ter um seio que não sai leite, exatamente porque não temos os nossos filhos em nossos peitos… mas é também uma experiência marcada pela fé e esperança de que é possível vencermos a prematuridade, mesmo que os nossos bebês tenham se tornado anjos, após uma longa batalha pela vida.
A nossa família e amigos íntimos sofrem e vibram conosco a cada instante de piora ou melhora inesperada. Os avós… meus deus, como também sentem toda essa intensidade de sentimentos… são os filhos e os netos deles que estão sofrendo e lutando pela vida. E mesmo diante de todo sofrimento, os avós são pessoas fundamentais no acolhimento afetivo de uma mãe e um pai prematuro.
E o principal envolvido em toda essa experiência e luta pela vida? O nosso bebê ou os nossos bebês! Alguns pesando seus 500 gramas ou um pouquinho mais. Outros com 1 quilo cravado ou um pouco mais. Alguns nascidos extremos, com menos de 28 semanas. Outros entre 28 a 35/36 semanas gestacionais. Todos prematuros, mesmo que expressem muitas diferenças de maturidade e complexidade clínica, desde o nascimento. Todos prematuros, porque saíram antes do ventre materno e não tiveram o acalento do corpo de sua mão ao nascimento.
Alguns até choraram, alguns ficaram até alguns instantes no colo de sua mãe, mas todos necessitaram de um acompanhamento especial. Alguns passaram dias na UTI Neonatal, outros passaram semanas e outros meses e meses. A luta pela vida é uma batalha árdua para qualquer bebê que nasça antes de ter a sua maturação completa. Em especial, os prematuros extremos vivenciam o tênue limite entre a vida e a morte. Felizmente, alguns prematuros conseguem vencer os desafios clínicos da prematuridade, sem grandes sequelas. Outros, vencem a prematuridade, apresentando sequelas. E os nossos bebês anjos lutam com toda a sua potência para vencerem, por exemplo, as infecções, as hemorragias e as instabilidades clínicas, mas retornam para o mundo espiritual, de onde todos viemos e retornaremos um dia.
Portanto, a nossa sociedade precisa compreender que a prematuridade é uma realidade complexa e que apresenta efeitos a curto e a longo prazo, desfechos felizes e tristes. Porém, a esperança, a fé e o otimismo podem e devem ser sentimentos presentes em todas as equipes médicas e famílias que estejam enfrentando, nesse exato momento, a prematuridade e a realidade de uma UTI Neonatal. E para provar o quanto é possível vencermos a prematuridade, posto aqui fotos de prematuros de quando nasceram e de como estão hoje. E para os pais de bebês anjo, a minha sincera admiração por todos vocês. Uma vez que nos tornamos mães e pais, para sempre teremos esse papel afetivo, seja por nossa relação aqui na terra, seja por nosso amor que alcança o céu.