Recebi um convite incrível para colaborar com uma página dedicada aos prematuros e isso me fez pensar na minha história com eles.
Esses pequenos que parecem tão frágeis são na verdade muito fortes e muito cheios de ensinamentos e isso é parte da minha história na pediatria.
Na faculdade minha opção pela pediatria veio através do contato com os prematuros, suas famílias e suas histórias, isso começou no estágio de berçário do internato.
Era para eu ser cirurgiã, mas o estágio com os pequenos evidenciou uma paixão e me fez mudar de cirurgia para pediatria e depois neonatologia.
Na neonatologia conheci o Método Canguru, coisa mais linda !!! A tecnologia do colo, do toque, do amor, da construção do vínculo afetivo como ferramenta para ajudar as pequenas vidas imaturas a vencer os desafios de chegar mais cedo. A validação do amor como indutor de fortalecimento para o organismo em formação é de uma importância imensa.
Aparelhos, medicações, profissionais especializados são essenciais no cuidados com os prematuros, mas a presença da família, a aproximação do bebê imaturo e frágil com os pais faz com que a existência seja validada e através daí processos biológicos, imunológicos, neurológicos serão fortalecidos.
A ciência mostra as repercussões benéficas em todos os sistemas físicos do bebê prematuro que recebe olhares de mãe e de pai, reconhecimento amoroso, toque positivo. Essa tecnologia é capaz de fortalecer o sistema imunológico, ajudar a auto-regulação dos subsistemas e estimular o desenvolvimento neurológico facilitando o desenvolvimento motor, a capacidade de respirar sozinho, de se alimentar, de sobreviver. E essa tecnologia vale para todos os bebês, prematuros ou não. E serve para todas as relações parentais.
Com os prematuros aprendi que é preciso compreender as capacidades e compatibilidades neurológicas de cada cérebro e cada organismo em suas diversas fases para compreender a infância e suas particularidades. É preciso proteger a imaturidade e dar oportunidade para que cada um, dentro do que está pronto para fazer em cada momento atinja seu desenvolvimento máximo e próprio.
E o amparo amoroso através do toque, do colo e da presença da família são essenciais para que a regulação do estresse ajude o melhor desenvolvimento de cada bebê e para que pais prematuros aprendam o seu papel na vida dos seus bebês.
Toque positivo estimula a produção de hormônios de bem estar que competem com os hormônios do estresse, e essa é a chave para facilitar e proteger o desenvolvimento de organismos imaturos em variáveis graus. O colo, o toque, as conexões amorosas salvam sempre, mas principalmente dentro de um ambiente de cuidados com prematuros essa tecnologia é essencial à sobrevivência com qualidade e deve ser estimulada e amparada por quem cuida.
Afinal de contas, um ser humano para existir precisa ser reconhecido por outro e isso é uma verdade que precisa nortear os cuidados com a infância em qualquer fase e tempo, principalmente com a infância mais imatura e mais vulnerável que acontece na prematuridade.
Um grande abraço, Dra Márcia Dias Zani