A intuição dos pais

A intuição materna/paterna pode, sim, acalentar as nossas angústias diárias

 (Foto: Getty Images)

Sabemos o quanto a ciência e todas as suas descobertas são importantes para conhecermos melhor as particularidades dos primeiros anos de vida, valorizarmos e cuidarmos com muita atenção e carinho da infância; fase única e imprescindível para a saúde emocional de todo ser humano.

Maternar e paternar no mundo contemporâneo significa estar envolto em muitas teorias, informações e conhecimentos sobre cada fase e estágio de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem de nossos filhos, não é mesmo? Todo esse processo é importante e mudou  nossa forma de compreender as transformações e condutas de uma criança pequena. Eu mesma, como cientista e terapeuta que estuda o desenvolvimento e a aprendizagem infantil, valido e compartilho as informações científicas, juntamente com todos os meus parceiros que fazem parte da equipe interdisciplinar do @prematurosbr.

Porém, em meio a tantas teorias e descobertas, que, muitas vezes, atropelam o maternar e paternar contemporâneos, qual é o “LUGAR” e o “VALOR” dos atos e ações que são inerentes a toda mãe e todo pai no processo de aprender e observar, diariamente, os seus filhos? Pais e crianças precisam da relação afetiva, do contato íntimo e duradouro para se conhecerem, para se aproximarem, para se conectarem… O afeto entre eles não pode ser dirigido e mediado por teorias ou receitas milagrosas. Ele precisa ser sentido, apoderado e valorizado em nosso dia a dia.

E quando nos apoderamos de nossas sensações e sentimentos, a intuição materna/paterna também pode ser sentida e escutada. Quantas e quantas vezes, a nossa intuição como mãe ou pai nos levou a um caminho muito mais correto e rápido do que os disponíveis pela própria ciência? A intuição humana é um recurso afetivo e extremamente valioso e que não deveria ser calada.https://71b866441098badd8a0ec4d951ec4830.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

As nossas bisavós e avós, por exemplo, que, muitas vezes, não eram nem alfabetizadas, diante das experiências diárias com seus filhos, conseguiam perpetuar vários ensinamentos de geração em geração. Não eram cientistas, mas aprendiam com as experiências significativas que a vida lhes apresentava. E, acima de tudo, escutavam e valorizavam a intuição humana!

Creio que a intuição humana está em desvalia porque requer um corpo com um coração e alma pulsantes. Ou seja, um corpo que também consiga ouvir e trilhar os caminhos da afetividade. Isso não é loucura ou descrença da ciência. Muito pelo contrário! A ciência pode e deve ser potencializada pela afetividade. Exatamente porque é a intuição e a experiência com sentido que fazem com que sejamos capazes de observar os detalhes de uma relação entre uma família, as nuances do comportamento dos bebês e a sutileza do que é esperado ou não para cada fase do desenvolvimento. Sim! Olhar e compreender os detalhes apresentados pelos nossos pequenos. Afinal de contas, o desenvolvimento infantil não é um processo nada linear e tampouco um processo para ser comparado entre as crianças.

A intuição materna/paterna pode, sim, acalentar as nossas angústias diárias. Não de uma maneira imediatista, mas de uma forma na qual ela nos demonstre o quanto podemos ser disponíveis e abertos a aprender e observar os nossos filhos, não somente com os olhos da ciência e das teorias; mas também com os olhos de nossos corações e almas.

O choro de nossos filhos, as dificuldades no aleitamento materno, na introdução alimentar, no sono, no banho, no desfralde às vezes podem ser resolvidas pela nossa disponibilidade em observar, em nos acalmar, em tranquilizar as crianças com os nossos braços e colos… Em outras situações, a nossa intuição e observação nos dizem o quanto é serio aquele problema/comportamento/sinal, ao contrário do que podemos escutar de um especialista, por exemplo.

Ah, são tantos exemplos que carrego em minha vida pessoal e profissional sobre o valor da intuição de pais de crianças pequenas, que decidi escrever esse texto. Como dito anteriormente, não com o objetivo de diminuir o valor da ciência. Nunca! Mas com um forte desejo de potencializar os sentimentos intuitivos que surgem no nosso cotidiano, como pais. Afeto e ciência formam uma dupla perfeita. Um potencializa e complementa o outro. E essa é a minha grande missão, como uma cientista que se tornou gestante de risco e mãe de dois prematuros.

Espero que esse texto possa ter acolhido vários pais, porque o afeto pode e deve ser ouvido por todos. O amor e a nossa intuição podem curar e transformar VIDAS. 

Afinal de contas, mãe/pai sabe que não existe receita, teoria e nem método eficaz que dê todas as respostas. Tenho discutido muito sobre isso com duas parceiras do @prematurosbr : a terapeuta ocupacional Miriam Arvelino do @eintegração e Ana a fundadora do @prematuros_pelo_mundo. O maternar/paternar é sinônimo de vivência diária, de corpo a corpo, de intuição, de muitos sentimentos à flor da pele, de muitas tentativas e erros e de muita aprendizagem e experiência, dotadas de sentido cotidiano e afetivo. Portanto, espero que nós, mães/pais, sejamos mais fortes e mais resistentes no intuito de darmos mais atenção à nossa capacidade de intuir, sentir. E que a ciência seja honesta para afirmar o quanto necessita dos conhecimentos cotidianos, da cultura e da intuição humana para continuar a sua existência.

Um grande abraço, com afeto, Teresa Ruas. Gratidão a Miriam e Ana pelas nossas conversas e desconstruções sobre o maternar de nossos pequenos.

Link completo da matéria: https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Teresa-Ruas-Vida-de-Prematuro/noticia/2020/09/teresa-ruas-intuicao-dos-pais.html

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