Olá a todos!
Falamos muito da importância das sensações no desenvolvimento dos bebês e crianças pequenas. As vias sensoriais são os canais de comunicação entre o bebê e o mundo favorecendo transformações e aprendizado. É por meio dos sistemas sensoriais que o bebê apreende o mundo, se organiza e se relaciona.
Somos pura sensação nos primeiros meses de vida…. e o grande desafio do nosso cérebro é ser capaz de receber essas informações pelos nossos 8 sentidos (tato, olfato, paladar, audição, visão, propriocepção, vestibular, intercepção), organizar, integrar e “devolver” uma resposta efetiva ao ambiente por meio do nosso corpo.
“Sensações são impulsos de correntes elétricas… e esses impulsos precisam ser integrados para ganhar significado. Integração é o que transforma sensação em percepção. Nós percebemos nosso corpo, outras pessoas e objetos porque nosso cérebro integrou os impulsos sensoriais numa forma de relacionamento significativa” (Ayres, 1979).
A maneira como vamos perceber e compreender o mundo depende da interpretação do nosso cérebro para as sensações oferecidas no ambiente diário. Contudo, é importante ressaltar que todo esse processo está vinculado à constituição do sujeito, do seu nascimento e do ambiente onde ele está inserido com suas características culturais e familiares.
Sabendo disso, pode-se compreender porque crianças respondem de uma determinada maneira às informações sensoriais e outras interpretam e respondem de forma diferente ao mesmo estímulo. Pensando nos nossos prematuros, alguns choram ao tomar banho e outros sentem muito prazer… Alguns vibram ao ir no parquinho, balançar e escorregar…e outros ficam quietinhos, tímidos ou com medo diante desses desafios.
Pode ser muito difícil e sofrido para alguns prematuros ingerir novos alimentos, brincar na areia da praia ou andar descalço na grama… para outros, nem tanto.
Como falamos em outros posts publicados aqui no nosso espaço, é importante observar o comportamento do seu filho e filha diante das experiências sensoriais, promove-las com conforto e de maneira lúdica.
É no dia a dia, por meio das brincadeiras, das atividades de auto-cuidado, alimentação, passeios, etc. que podemos promover vivências sensoriais que serão, a princípio, “apenas” sensações e, com o tempo, essas sensações (de forma integrada) se transformarão em percepção do corpo e do mundo.
Hoje vamos falar especialmente do Tato. Perceber diferentes texturas, tamanhos, vibrações, formas, pesos, temperaturas...favorece a construção de mapas neurais para esses estímulos que no futuro serão parte da consciência do corpo, da coordenação motora e da aprendizagem de matemática, leitura e escrita!
SEMPRE respeite o medo e a aversão da criança frente a um determinado estímulo ou brincadeira. Não imponha aquilo que, neste momento, para ela está difícil de processar e discriminar. Quando estiver em alguma situação de movimento (parques por exemplo) ou frente a determinados estímulos táteis que a criança sinta como desagradável ou demonstre medo e isso pode ser na grama, na terra, ou mesmo na hora de comer, deixe que ela tenha o controle da situação. Deixe que ela controle a intensidade, direção, velocidade e quantidade de estímulo (brincadeira) que ela é capaz de aguentar naquele momento.
Por exemplo, se a sua criança tem muito medo de balançar e de se desafiar numa brincadeira no parque, encoraje-a, nesse momento, respeitando seu limite…deixe que ela toque o balanço, que ela empurre uma boneca em cima do balanço ou que ela, apenas, sente no balanço com os pés apoiados no chão sem movimentá-lo….dessa forma, pouco a pouco ela poderá ganhar confiança nas mudanças do corpo no espaço e se relacionar com a brincadeira de forma confortável e eficiente.
Vocês vão à praia no final de semana e já começam a se preocupar da criança não gostar de se sujar ou medo do mar… conforte sua criança, explique que ela não vai entrar em contato com a areia caso ela não queira… leve uma cadeirinha infantil para ela sentar ou estique uma toalha para ela sentar em cima. Coloque meias, por que não? Nesse momento é o que vai deixa-la confortável e quem sabe assim, ela conseguirá brincar com a areia usando as mãos, as pás, a bola…. incentive com amor e respeito às aversões dela… e isso, nós pais sabemos fazer bem, não é mesmo?
Nas brincadeiras com tintas, espumas, massas, seu filho fica aflito? Ajude-o oferecendo ferramentas: pás, colheres, esponjas, rolos, pincéis, escovas, etc… assim, ele não precisa se retirar nesses momentos, será capaz de interagir com outras pessoas, com outras crianças e também aos poucos ele irá manusear esses materiais podendo integrar as informações táteis, percebe-las e discriminar no seu tempo.
Bebês e crianças que sentem desconfortos ao serem tocados ou tocar algo, em geral gostam muito de sensações profundas do Tato como por exemplo, a sensação de pressão: um abraço mais forte, “apertar” os ombros, mãos, pernas, brincar de empilhar almofadas em cima do corpo para formar uma cabana ou esconde-esconde. Embrulhar o bebê numa manta ou toalha bem apertadinho para ficar no colo cantando uma música….aninhar seu filho numa rede de balanço com várias almofadas proporcionando um ambiente mais restrito e com conforto.
Outra brincadeira que as crianças com dificuldade em processar e experimentar brincadeiras com o sistema tátil gostam, é sentir o peso dos objetos: use saquinhos de areia ou de grãos para empilhar, empurrar dentro de um carrinho, jogar numa cesta ou cobrir todo o corpo como o casco de uma tartaruga….
Se o seu filho (a) exibe comportamentos aversivos a diferentes sistemas, como o tato, visual, audição ou de movimento, proporcione momentos de Brincar reduzindo a sobrecarga sensorial: use espaços pequenos, delimitados fisicamente (como cercar um espaço com almofadas, ou tapetes, cabanas…), use sons mais baixos, luz amena. Será menos agressivo sensorialmente e organizador para a recepção e percepção das sensações no corpo.
O universo infantil é repleto de texturas, abuse das variedades nas brincadeiras: cestas com objetos de madeira, palha, ferro, tecido, plástico, borracha, etc… mas lembre-se…respeitando o ritmo e forma de exploração de cada um.
Aproveite o momento da alimentação para manusear o alimento com as mãos, com a boca, com o corpo. Explore texturas como cascas, sementes, massas, fios. Explore formas, cores e temperaturas que a riqueza na variedade dos alimentos pode oferecer. A criança não precisa necessariamente comer toda a variedade proposta, mas pode interagir, brincar, sentir…
Há um imenso leque de possibilidades quando pensamos no Tato e o universo infantil. O que pretendemos é explorá-lo de forma saudável, lúdica, com afeto, respeito e garantir que as famílias percebam a importância dessas relações a favor do desenvolvimento das nossas crianças.
Abraços,
Ana Andreotti e Teresa Ruas
OBS: FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL. É PROIBÍDO A REPRODUÇÃO.