Quando pensamos na sensação do toque, do tato, logo nos vem à cabeça sensações na pele e no corpo como um todo, contudo, precisamos destacar que a boca é uma das regiões com maior representação sensorial no cérebro. A região oral, composta pela parte externa e interna da boca apresenta um grande número de receptores táteis, que levam informações ao cérebro sobre as texturas, temperatura e consistências dos objetos e dos alimentos.
Nos bebês, os receptores táteis na boca estão bem mais desenvolvidos do que os encontrados em suas mãozinhas e pezinhos, por exemplo. Essa é uma das razões do porquê os bebês começam a explorar o mundo com a boca…sentir os objetos, a própria mão, o seio e a pele materna. Esses momentos são fundamentais, base para a construção do afeto, da motricidade, das percepções e do desenvolvimento de uma forma geral.
Durante a introdução alimentar, vamos imaginar quantas sensações são “ativadas”, recebidas pelo cérebro do bebê e da criança pequena durante a alimentação? Vocês conseguem perceber o quanto o momento da oferta do alimento é caracterizado por uma grande integração de sensações sensoriais? A visão, o tato, o cheiro, o gosto (paladar)…são muitas sensações ao mesmo tempo.
E, no decorrer do desenvolvimento, eventos transitórios como uma infecção, por exemplo, podem trazer dificuldades momentâneas para o bebê. Ele pode sentir alguma dor, pode ficar irritado, “enjoadinho”, pode perder o interesse por brincar, por se alimentar e para integrar todas as sensações que a alimentação oferece a ele. Gabi, pouco antes de completar 6 meses, no início da introdução de alimentos sólidos, desenvolveu uma infecção urinária, sendo necessário a introdução de antibióticos, que foi prescrito pelo pediatra. Gabi passou a recusar alimentos, o que deixou os pais bastante preocupados com a possível perda de peso. Gabi passou a ser alimentada pelo método BLW, que consiste em alimentar o bebê no mesmo horário de alimentação dos pais, tendo uma participação ativa desse momento familiar e escolhendo o alimento preferido dentre aqueles oferecidos na refeição. Trata-se de uma estratégia que, segundo a autora, é utilizada instintivamente por muitos pais (a revista Crescer tem uma matéria sobre o tema), onde o alimento com a mesma consistência de preparo para os pais é oferecido ao bebê, permitindo que ele escolha e utilize suas mãozinhas para pegá-los, senti-los e leva-los à boca. Gabi passou a se alimentar e encantar os pais com uma rica exploração e percepção dos alimentos, fazendo suas escolhas e dando para os pais as “pistas” sobre os alimentos de sua preferência. Gratidão à Gabi e seus pais Gisela e Rafael por esses momentos de grande aprendizado.
Este caso ilustra a importância de conhecermos a realidade de cada família e criança, de forma interdisciplinar, para encontrarmos o melhor momento e a melhor maneira de avançarmos na introdução alimentar, fase tão importante para o desenvolvimento de um indivíduo. Existem diversas maneiras de permitir que isto aconteça e avaliar a prontidão de cada bebê, seus interesses, seus receios é fundamental para traçarmos estratégias – não há uma reposta pronta, única, que caberá a todos! Muitas vezes as opções que vão bem em uma realidade, não vão bem em outra, e percebermos os interesses de cada criança pode nos dar pistas sobre qual caminho seguir.
Esse texto e esse caso foi dialogado por 3 profissionais e todos parceiros do @prematurosbr: Dra Heloísa Gagliardo, Dra Teresa Ruas e Dra Aline Menezes