Não existe qualquer momento, experiências ou ciclos de vida que a resiliência não possa nos acolher e acalmar os nossos maiores traumas

A possibilidade de enfrentar e viver mais um dia, mais uma etapa, mais um entardecer, um anoitecer, um amanhecer nos coloca de pé e com um misto inexplicável de sentimentos, sensações e emoções

Ultimamente, tenho refletido muito sobre a capacidade humana de se adaptar, moldar-se, transformar-se diante das mudanças, dos inesperados, imprevistos e das marcas significativas que a vida nos apresenta.
Bem no comecinho dos anos 2000, fui apresentada na universidade a um conceito já antigo na área de engenharia de materiais, mas recente quanto ao uso de seu significado na área da educação e saúde. Uma palavra muito bonita que, de cara, me deixou apaixonada pelo seu significado e versatilidade do seu uso em diversas áreas do conhecimento: resiliência.

Essa foi a palavra que me impactou no comecinho do século XXI e que jamais poderia imaginar que o seu conceito iria não apenas percorrer a minha trajetória como cientista, mas também como pessoa humana: uma mulher que enfrentou dificuldades para engravidar, que vivenciou duas gestações de alto risco, duas prematuridades, depressão pós-parto, uma quase separação conjugal, várias mudanças de países/cidades e, atualmente, o enfrentamento de um transtorno demencial e disfunção cardíaca de minha mãe.

Dialogar sobre a vida, marcas e dores não é nos colocar no papel de vítimas. Antes de tudo é poder ter espaço para abrirmos os nossos corações, demonstrarmos as nossas cicatrizes, desvelarmos os nossos sentimentos mais primitivos, desvendar os nossos vazios existenciais, valorizarmos nossas experiências, sermos gratos às conquistas e encararmos de perto os nossos maiores medos, angústias, tristezas e incertezas.

E nesse incessante desvelar e ressignificar de sentimentos, marcas, feridas, conquistas, alegrias e saudades, como não pensarmos e introduzirmos o conceito de RESILIÊNCIA em nossas vidas? Para a engenharia, resiliência é a propriedade que alguns materiais apresentam de retornar à forma original, após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Para a área da saúde e educação, seria a nossa capacidade de se adaptar aos fatores de risco biológico — exemplo: nascimento prematuro, baixo peso ao nascimento —; aos fatores de risco social — exemplo: extrema pobreza ou vulnerabilidade social —; aos fatores de risco emocional — exemplo: as mudanças repentinas que a vida nos impõem: tornar-se uma gestante de alto risco, ter que passar por várias fertilizações in vitro (FIV), tornar-se pais de anjos, enfrentar adoecimentos psíquicos, perdas gestacionais em série, separação conjugal, adoecimento de um filho, diagnósticos difíceis em nossos filhos, envelhecimentos dos pais… Tantos eventos e riscos emocionais que tenho certeza de que iríamos completar folhas e folhas se eu pudesse escutar as marcas e feridas de cada pessoa que está lendo esse texto neste exato momento.https://7823281645f81a920e00d5ea94d9080c.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html?n=0

“A dor vem à galope, nos marca profundamente, nos tomba… Mas, a possibilidade de enfrentar e viver mais um dia, mais uma etapa, mais um entardecer, um anoitecer, um amanhecer nos coloca de pé e com um misto inexplicável de sentimentos, sensações e emoções”Teresa Ruas

Porém, tenho refletido muito em terapia o quanto a RESILIÊNCIA precisa e pode superar, ressignificar e transformar os TRAUMAS e as nossas FERIDAS INTERNAS. Foi exatamente diante dessa reflexão que tive a real constatação de que essa palavrinha tão famosa e usada em diversas áreas do conhecimento me acompanha, nos acompanha, te acompanha em vários ciclos, etapas e momentos vividos. É claro que esse processo de superação, ressignificação, transformação, compreensão do “para que” estamos vivendo inesperados, sofrimentos, lutas internas, vazios existenciais não irá acontecer de um dia para o outro… Requer pausas, choros, respiros, suspiros, diálogos, suportes, afetos, abraços, olhares, renascimentos… Processos longos, difíceis, às vezes até vistos por nós mesmos como insuportáveis ou inviáveis, não é mesmo? A dor vem à galope, nos marca profundamente, nos tomba… Mas, a possibilidade de enfrentar e viver mais um dia, mais uma etapa, mais um entardecer, um anoitecer, um amanhecer nos coloca de pé e com um misto inexplicável de sentimentos, sensações e emoções. A tristeza se une e se mistura com a alegria, o choro se esbarra no sorriso, o abraço acolhe o medo, o olhar acalma a inquietude da alma, o afeto se une à razão, o amor faz respingos na dor… E, quando nos damos conta dessa versatilidade de sentimentos, a nossa capacidade de se moldar às adversidades, inesperados e mudanças da vida se instaura em nós com mais força, restaurando nossas mentes e corações.

Não existe qualquer momento, experiências ou ciclos de vida que a resiliência não possa nos acolher e acalmar os nossos maiores traumas, marcas existenciais e vazios afetivos. Existe, antes de tudo, o nosso tempo para adaptarmos às novas sensações, sentimentos e rumos que a vida nos apresenta… Somos convidados a continuarmos vivos, expressando a essência humana, em comunhão com a divina que habita em todos nós. Afinal, somos seres espirituais e afetivos, não apenas biológicos! Temos, sim, uma essência divina!

As marcas existências e os traumas existem e sempre existirão… E, a cada ciclo vivido por mim e que me aciona o significado da palavra resiliência, tenho a certeza de que são as dores humanas e terrestres que aperfeiçoam a nossa capacidade física, mental, afetiva e espiritual de nos adaptarmos e continuarmos produzindo vida. O material/substrato humano mais significativo vem da alma, do coração, de nossa espiritualidade. Esse material só pode ser elástico a qualquer fator de risco… Afinal de contas, somos convidados todos os dias a perceber e dar valor à vida, às pequenas coisas e aos mistérios da vida. Como Jota Quest diz em uma de suas letras, a vida nos convida a sermos “mais fortes no amor” e “mais fortes na dor”.

Não existe qualquer momento, experiências ou ciclos de vida que a resiliência não possa nos acolher e acalmar os nossos maiores traumas, marcas existenciais e vazios afetivos. Existe, antes de tudo, o nosso tempo para adaptarmos às novas sensações, sentimentos e rumos que a vida nos apresenta… Somos convidados a continuarmos vivos, expressando a essência humana, em comunhão com a divina que habita em todos nós. Afinal, somos seres espirituais e afetivos, não apenas biológicos! Temos, sim, uma essência divina!

As marcas existências e os traumas existem e sempre existirão… E, a cada ciclo vivido por mim e que me aciona o significado da palavra resiliência, tenho a certeza de que são as dores humanas e terrestres que aperfeiçoam a nossa capacidade física, mental, afetiva e espiritual de nos adaptarmos e continuarmos produzindo vida. O material/substrato humano mais significativo vem da alma, do coração, de nossa espiritualidade. Esse material só pode ser elástico a qualquer fator de risco… Afinal de contas, somos convidados todos os dias a perceber e dar valor à vida, às pequenas coisas e aos mistérios da vida. Como Jota Quest diz em uma de suas letras, a vida nos convida a sermos “mais fortes no amor” e “mais fortes na dor”.

Espero que todos possamos um dia afirmar para nós mesmos: A MINHA RESILIÊNCIA ENFRENTOU E SUPEROU OS MEUS TRAUMAS OU MARCAS EXISTENCIAIS QUE A VIDA ME APRESENTOU. Lembrando sempre que superar não significa esquecer ou virar a página. Cada capítulo de nossas vidas não foi escrito para ser esquecido! Antes de tudo compreendido, ressignificado, acolhido… e com muita resiliência.

Um grande abraço, com afeto, ciência e espiritualidade, Teresa Ruas.

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