A partir dos 2 anos de idade, a criança já está pronta para pensar sobre o que experimentou no corpo e no ambiente até hoje. As experiências físicas e sensoriais que realizou até agora nas brincadeiras, dão lugar às experiências mentais, isto é, a criança agora é capaz de criar, imaginar e pensar sobre o que aprende com objetos e pessoas que se relaciona. É importante lembrar que ela não vai deixar de experimentar o mundo através das suas sensações, mas vai agora complementar essa experiência de uma forma mais sofisticada que é usando a imaginação e o pensamento.
Além de brincar com as mãos e com o corpo, a criança irá brincar com a “sua cabeça”. Isto quer dizer que, aos poucos, a criança é capaz de pensar por meio de símbolos, imagens de objetos que não estão presentes ou situações que não são reais naquele momento. Ela é capaz de representar algo e combinar diferentes características para atingir uma meta desejada, ou seja, ao tentar resolver um problema, terá habilidade de pensar sobre ele e não mais ficar na tentativa e erro. Os brinquedos e as brincadeiras da criança nesta idade precisam ser tão variadas quanto antes, a fim de “alimentar” agora, a sua imaginação.
A aquisição da linguagem nesta idade também favorece o amadurecimento da conversa entre a criança e sua família, bem como se apresenta como fonte de repertório para a construção do conhecimento e de novas brincadeiras. Por exemplo: ao passear de carro e observar uma ambulância passar com a sirene, a mãe pode comentar com seu filho sobre como esta ambulância é rápida, sobre os enfermeiros que trabalham nela para cuidar das pessoas e levá-las ao hospital. Certamente, este contexto poderá favorecer mais tarde, uma brincadeira da criança em levar os seus bichinhos ou bonecos ao médico dentro de uma caixa fazendo de conta que é um carro super rápido! O uso da sirene, a prioridade deste carro para passar na frente dos outros pode provocar a curiosidade da criança e portanto o seu nível de pensamento sobre diversos assuntos.
Utilize lugares e acontecimentos simples do dia a dia para favorecer este contexto de curiosidade e imaginação. Ir ao supermercado sempre é uma boa opção: aprender nomes novos, cores diferentes, contar alimentos ao colocar no saco, procurar algo que gosta. Conhecer objetos que são de usar, de comer, de vestir, coisas para bichinhos de estimação, para plantas, etc… Encher saquinhos, carrinhos, depois esvaziar… E depois, com sucatas, você pode reproduzir este contexto em casa e deixar a criança usar a sua imaginação para criar o próprio mercado e pessoas que lá freqüentam.
Ao brincar de faz de conta, a criança não está apenas reproduzindo uma imagem ou alguma tarefa que observou os pais desempenharem. Ela está se colocando no lugar dessas pessoas e imprimindo a sua forma de ver aquela situação. Ela está colocando na brincadeira seus pensamentos, vontades, desejos, medos e frustrações a partir de algo que viu e que chamou a sua atenção. Portanto, o brincar de faz de conta, além de possibilitar linguagem, criatividade, raciocínio, também favorece a expressão e vivência de sentimentos que são importantes para o desenvolvimento do seu filho!
Outra forma de brincar de faz de conta usando todas essas novas habilidades que a criança agora é capaz, é por meio das atividades artísticas: música, desenhos, pinturas e modelagem. A criança desta idade quer muito descobrir como as coisas funcionam, para que servem e o que elas podem fazer de diferente com um mesmo objeto. Aos poucos, elas descobrem que podem criar coisas concretas, como um boneco de massa por exemplo e, sobretudo, que elas fazem os objetos funcionarem e que as coisas não acontecem sozinhas. Elas podem construir, fazer, misturar, etc.
Brinquedos e brincadeiras:
- Resolução de problemas e coordenação motora: encaixe de formas, contas num cordão, Lego, blocos de madeira para construções, etc.
- Fantasias, chapéus, máscaras, fantoches, etc.
- Telefones, caminhas, bonecos, comidinhas, pratos, talheres, escovas e objetos que representam as tarefas do dia a dia.
- Carrinhos, barcos, motos, postos de gasolina, ferramentas, rampas, etc.
- Atividades artísticas: massinhas de modelar, canetinhas, giz de cera, argila, tinta, etc.
- Bichos de pelúcia, bichos de borracha, miniaturas.
- Livros infantis, instrumentos musicais.
- Brincar no parque, na areia, com água e potes de diferentes formas e tamanhos. Usar instrumentos (colheres, pás) para encher e esvaziar.
- Usar sucatas (potes, garrafas de plástico, tampas, etc) para a criança criar os seus brinquedos, fazer construções e colagens.
- Usar cola branca para colar papéis coloridos, jornal, potes de Danone, sementes, folhas e galhos de árvore.
- Brincar de bola com as mãos, com os pés, ensinar a pedalar um triciclo, empurrar um carrinho de supermercado.
- Montar quebra-cabeça de 4, 6 e 8 peças (ou mais…)
Ana Luiza Andreotti, coordenadora da equipe interdisciplinar @prematurosbr e fundadora do @to_integrasense