Olá a todos os seguidores.
Em meio a tantos posts sobre o mundo da maternidade, resolvi postar, hoje, um texto que fala sobre um aspecto muito importante dentro do desenvolvimento infantil: o desenvolvimento do senso moral. Ou seja, como as crianças pequenas iniciam a compreensão de importantes valores sociais- respeito, solidariedade, justiça, honestidade, igualdade, entre outros- e que determinam o surgimento de diferentes sentimentos, condutas e percepções sobre elas mesmas, em suas relações com o outro, diante do convívio e do modelo social a que são expostas.  Convido vocês, pais, a compreenderem um pouquinho sobre o que significa isso e quais são as transformações que a criança vivencia, especialmente, nos aspectos afetivos, cognitivos e sociais, frequentemente, quando começa a participar/ compartilhar, de forma mais efetiva, de  situações grupais/coletivas.

Vamos lá?  
Vocês se lembram da fase em que seu filho adorava pronunciar as frases: “é meu, é meu, é meu”, ou “eu quero, eu quero, eu quero”? Uma fase em que tudo, não apenas os seus ‘pertences’, eram de exclusividade dele? Sem contar nos frequentes momentos de choro e birra quando os desejos ‘imperativos’ não eram prontamente atendidos, não é mesmo? Nessas horas, a compreensão e a interação entre pais e filhos era bem difícil! E afirmo, como mãe, que durante a ocorrência desses ‘acontecimentos’, a paciência deve, ou deveria, ser soberana sobre os nossos comportamentos e reações como pais. Mas como somos de carne e osso, às vezes, a paciência ficava mesmo só na teoria!
Outra cena muito frequente e que deve ser mencionada é quando a criança  encontra um amiguinho da mesma idade ou mais novo em um aniversário, no parquinho, por exemplo, e todos querem brincar com o mesmo brinquedo. Um puxa dali, o outro puxa daqui. Um toma daqui, o outro toma dali… nenhuma criança abre mão do brinquedo almejado e o grupo não consegue estabelecer a ação de emprestar o brinquedo para o outro e/ou esperar a vez de cada um, sem choros e/ou sofrimento diante da perda momentânea.  
E, todas as crianças, nesse embate, olham esperançosas para os seus pais, como se aguardassem uma resolução mágica. E a resolução mágica, ao contrário do que os nossos filhos desejam, é, justamente mediar o conflito, demonstrando aos pequenos que existem valores a serem respeitados e aprendidos. Pois devemos ensinar aos nossos pequenos que os desejos existem, mas também existem as frustrações e os limites em qualquer relação afetiva e social. E nesses momentos, a conduta parental é extremamente importante. E nada melhor do que os próprios pais para explicarem para as crianças o que significa, por exemplo, emprestar o brinquedo para o seu amigo, esperar a sua vez e, acolherem a tristeza momentânea- mas real- de uma criança que está aprendendo afetivamente a lidar com as frustrações, os valores/condutas sociais e a modificar a sua estrutura egocêntrica.   
Todos estes acontecimentos podem causar dúvidas em muitos pais que já passaram ou que estão passando pela fase dos seus filhos com 2 e 3 anos de idade, não é mesmo? É fato que algumas crianças expressam isso com mais frequência e com mais qualidade e, outras com menos. Porém, todas passam por momentos de embate nos quais o não compartilhar e o não emprestar são evidentes em suas relações com as outras crianças.
O lado positivo dessa história toda, é que mediante o desenvolvimento afetivo e cognitivo e, diante das experiências, aprendizagens sociais- com o outro presencial- e as mediações necessárias, a criança vai assimilando que existem algumas regras sociais e que lhes garante uma outra forma de se relacionar com o outro/ com os amiguinhos. O desejo imperativo de que tudo seja “somente meu” vai sendo substituído, aos poucos, pelo desejo coletivo. Com isso as clássicas birras vão diminuindo e a criança a partir de 3, 4, 5, 6… começa a expressar uma outra qualidade nas relações sociais- qualidade crescente com a idade- e a participar das brincadeiras em grupo com mais facilidade. Expressam uma outra compreensão e maturidade, por exemplo, diante da ação de emprestar, dividir, esperar, acolher e respeitar o outro em um contexto lúdico.
As teorias sobre o desenvolvimento da cognição e da afetividade humana, especialmente a Piagetiana, explicam estas transformações no comportamento social, afetivo e cognitivo de nossos filhos, diminuindo as frequentes culpas que podem aparecer em nós pais, por acharmos que apenas de um ano para cá o nosso filho se tornou mais educado e obediente diante de algumas regras, limites e ordens de convívio social, afetivo e cultural característicos das relações humanas.
Sabemos que todas essas transformações são uma profunda expressão do ‘despertar’ do senso moral e, que, justamente, inicia-se com a expressão de comportamentos mais sociais de nossos filhos. Antes desse período, a literatura caracteriza a criança como detentora de uma estrutura, ou seja,  de uma forma em lidar com o seu semelhante e com as demandas do meio, de maneira egocêntrica. É como se ela apenas compreendesse o seu próprio desejo e a sua própria vontade, não se colocando no lugar do outro e nem compreendendo que existem regras sociais e culturais que devem ser feitas e respeitadas. É como se até esse momento – o inicio de um despertar mais coletivo/social- a criança ‘dirigisse’ as suas motivações e interesses para o conhecimento das suas reais possibilidades na interação com os objetos, com as coisas físicas e com as pessoas que as rodeia diariamente.
Afinal de contas, a criança só inicia o desenvolvimento de ações que exigem maior maturidade cognitiva, afetiva e social, após compreender a dinâmica da relação do seu próprio corpo e de todas as suas potencialidades motoras e sensoriais, com tudo que a rodeia. Por isso mesmo é tão importante permitir que a criança explore as possibilidades que os objetos domésticos, brinquedos e que o seu meio oferece a ela. No sentido de assimilar como o corpo interage com cada objeto externo a ele. Como pegar, como soltar, como bater… e como o corpo funciona… como andar, como correr, como pular…quando fazer todas essas ações e onde. Toda essa aprendizagem que dizemos ser mais física/sensório-motora vai dando lugar a uma aprendizagem ‘mais mental’ e, por isso, voltada para os contextos mais coletivos e que demarcam outras características afetivas, sociais e cognitivas.
Portanto, a partir do momento das aprendizagens mais mentais/ sociais e não, somente, mais físicas e/ou mais sensoriais e/ ou mais motoras- características dos primeiros dois anos de vida- não apenas os sentimentos de fracasso e/ou de sucesso- conseguir e/ou não conseguir- estarão nas crianças. Com o amadurecimento, a criança começa a olhar e analisar a perspectiva do outro, compreendendo que é possível adequar o desejo individual ao grupo e às demandas sociais/culturais de um determinado contexto.
As brincadeiras em grupo começam a ter preferência crescente, sendo de extrema importância que os pais permitam essa experiência. Friso esta questão, pois sabemos que, atualmente, as crianças na faixa etária entre 3 a 7 anos, tem brincado muito tempo sozinhas, sem a presença do outro presencial, exceto no momento em que estão nas escolas. Sabemos o quanto os recursos tecnológicos tem sido amplamente utilizados no dia a dia de nossas crianças. E, frequentemente, esses recursos não ‘exigem’ a presença do outro presencial ou de um contexto em que as crianças estejam reunidas em grupo.      Reafirmo sobre a importância das brincadeiras em grupo, pois  sabemos que para ocorrer o desenvolvimento do senso moral, (os valores que devem ser respeitados em nossa cultura) é necessário também vivenciar dinâmicas coletivas, a fim de que a criança, por meio da ludicidade em grupo, possa estabelecer o conhecimento de si própria, do outro, dos valores e limites “impostos” pela socialização e integração grupal e cultural. Afinal de contas, o desenvolvimento acontece diante de uma interação contínua entre as estruturas afetivas, cognitivas, diante de um contexto social. O desenvolvimento afetivo e social precisa e deve acompanhar o cognitivo e vice- versa. E para isso acontecer precisamos promover experiências coletivas, sociais e culturais aos nossos filhos.
 Além é claro de, nós, pais sermos modelo de mediação, de acolhimento e de valores, como a honestidade, a verdade, o respeito, a justiça, a igualdade, a solidariedade. Os filhos nos imitam, nos tem como os seus espelhos e modelos a seguir. Por isso é tão importante a relação diária, baseada no amor e nos valores humanos, entre pais e filhos para qualificarmos e empoderarmos o desenvolvimento dos valores morais durante a infância.
Espero que tenham aproveitado a leitura, até o próximo post, Tetê e Maitê Maria.