O Movimento e o Brincar: o Sistema Vestibular em Ação

Olá a todos que nos seguem!

Semanas atrás falamos aqui no nosso espaço sobre a importância do movimento para o bebê e a criança. Escrevemos um pouco para vocês sobre o Sistema Vestibular e suas funções. Agora, nossa proposta é pensarmos como favorecer esses momentos de sensações de movimento para os bebês e crianças prematuras, com afeto e de forma lúdica.

Além de propor reflexões e fazer algumas sugestões, gostaríamos também de ouvir vocês…. conte para nós aqui no site ou no nosso Insta (@prematurosbr), suas experiências sobre esse assunto, alguma brincadeira que vocês tenham feito com os filhos e que podem enriquecer as ideias e momentos de outras famílias que aqui nos seguem também.

Como já sabemos, o Sistema Vestibular processa as informações de movimento, gravidade e mudança de posição da cabeça em relação ao corpo. Ele nos diz quando estamos em movimento ou parados, bem como, a direção e a velocidade do movimento do nosso corpo. Ele ajuda a estabilizar nossos olhos enquanto nos movemos e nos diz se os objetos à nossa volta estão em movimento ou parados. Precisamos processar informações vestibulares de forma adequada para preparar a nossa postura, manter o equilíbrio, planejar ações, nos mover, nos acalmar e regular o comportamento.

Atividades vestibulares incluem qualquer movimento que envolve a movimentação da cabeça em relação ao espaço. Para ativar o sistema vestibular precisamos utilizar atividades de aceleração/desaceleração, ou movimentos que possibilitam a criança experimentar planos diferentes como rotatórios, diagonais, etc.

Por isso, os balanços são os primeiros recursos que pensamos ao falar em movimento. Sim, eles são bem interessantes de serem usados no contexto de parques e das brincadeiras infantis. No entanto, podemos pensar em diferentes formas de usar o movimento do corpo no espaço…tanto para as crianças que já podem usufruir dos espaços coletivos, como parques, praças, festas, como para os nossos prematuros que ainda estão vivenciando uma convivência social mais restrita. Vale a pena conferir nossos últimos Posts do Instagram em que compartilhamos um pouquinho da história do Lucas que nasceu de 26 semanas gestacionais e tem o diagnóstico de Paralisia Cerebral. Com adaptações e disponibilidade, a família conseguiu criar momentos incríveis que proporcionam boas experiências sensoriais e lúdicas. Esse é o nosso olhar, que independente da condição do bebê e da criança no momento, podemos ofertar o Brincar e experiências ricas de sensações e afeto.

No uso dos balanços em parques, vale a pena criar brincadeiras em que as possibilidades de movimento sejam variadas como por exemplo, movimentos para frente para trás, girando, balançar na diagonal, acelerar ou parar bruscamente um balanço….é gostoso e muito atrativo para a criança quando criamos enredos e histórias junto com elas, por exemplo: o balanço pode “virar” um foguete que vai para Lua e precisa balançar muito rápido e de repente, ele vai mais devagar parando suavemente até seu pouso…. ou ainda, puxe o balanço para trás e faça uma contagem regressiva antes de soltar para uma “perfeita decolagem”. Igualmente, o balanço pode ser um carro de corrida que faz curvas e freia repentinamente, uma gangorra que pode fazer de conta que é um barco subindo e descendo as ondas do mar….

Outra forma de explorar o movimento é usando o corpo em diferentes posturas para brincar…quem disse que não podemos subir andando ou engatinhando o escorregador? Explorar diferentes posturas do corpo desenvolve consciência do corpo no espaço, equilíbrio e outras possibilidades cognitivas e motoras. Escorregar sentado, de barriga para baixo ou deitado de barriga para cima… Usar um balanço sentado, em pé, de joelhos…com olhos abertos ou fechados…

Em casa, o balanço pode ser substituído por outras formas de movimento com o corpo. Podemos usar redes de descanso, cadeira de balanço, passear com a criança dentro de uma caixa de papelão empurrando ou puxando-a por uma corda, usar uma cadeira de escritório com rodinhas como um carro veloz…. outra alternativa para balançar nossos bebês e crianças pequenas com conforto é segurar um lençol pelas pontas, colocar os bebês dentro e balançá-lo como se estivesse numa pequena rede… os movimentos podem ser de um lado ao outro (movimento pendular) ou vertical, puxando-a para cima e para baixo. Essa brincadeira além de proporcionar um movimento acolhedor para o bebê, também favorece o olhar entre ele e o adulto que segura o lençol.

Outra forma de potencializar as vivências sensoriais é realizar brincadeiras que possibilitam a integração das sensações no Brincar. Por exemplo: enquanto a criança balança ela pode arremessar ou chutar uma bola com força, ela pode usar os pezinhos para se empurrar, podemos forrar uma caixa com texturas diferentes (tapetinhos, folhagens, bolinhas, etc) e então começamos a puxar e empurrar. A criança pode sentar numa rede ou numa cadeira de balanço e brincar com um pote cheio areia, ou massinhas e até encher a rede com um vários bichos de pelúcias e almofadas. Nessas ocasiões estamos proporcionando um input maior de tato profundo e propriocepção junto com o movimento, ou seja, estamos promovendo uma situação para o cérebro da criança receber e reconhecer diferentes sensações e poder integrá-las para o corpo “ganhar” consciência e trabalhar de forma cada vez mais eficaz.

Mas fiquem atentos durante as brincadeiras que unimos sensações para não “bombardear” a criança com excesso de estímulos, pois cada pessoa tem seu limiar (o quanto suporta as informações sensoriais) e essa situação pode causar desconforto. Algumas crianças não se importam com ambientes barulhentos, brincam, pulam e ficam bem assim. Já outras, possuem perfis diferentes e podem apresentar um comportamento mais agitado ou irritado com excesso na oferta de sensações.

Alguns brinquedos por si só proporcionam movimento para o corpo e desafia o desenvolvimento da coordenação motora da criança como as motocas, bicicleta, patinetes, etc. Todos eles são recomendados e devemos observar com qual desses desafios seu filho se identifica mais… algumas crianças não gostam de bicicleta pois coordenar o movimento de pedalar pode ser difícil, mas nesse caso, a mesma criança pode ser muito ágil usando um patinete ou empurrando uma motoca usando os pés. Outras crianças não se identificam com essas brincadeiras, mas podem apreciar muito um passeio sentado na cadeirinha da bicicleta do papai e da mamãe…

Precisamos falar das crianças mais tímidas ou inseguras e que têm dificuldades para estar em ambientes motoramente desafiadores como os parques, usando os balanços, trepa-trepa, gira-gira, pontes… ou que se assustam ao mover a cabeça e trocar suas posturas, bem como ser colocada em situações que seus pés precisam sair do chão como num colo mais alto, andar de “cavalinho” nos ombros ou simplesmente balançar.

Assim, como contamos aqui no nosso espaço sobre crianças que apresentam um quadro sugestivo de defensividade tátil em que o processamento das informações táteis podem ser extremamente desafiadoras e desagradáveis para alguns prematuros, outros podem apresentar situações de comportamento aversivo às sensações de movimento, trocas posturais e mudanças no centro de gravidade que podem nos sugerir que o processamento das informações vestibulares ainda estão em desenvolvimento e que precisamos respeitar o ritmo de cada um.

Nesses casos, recomendamos não forçar uma situação desgostosa para seu filho. Estimular, provocar e proporcionar vivências são situações diferentes de “forçar” uma na qual ainda está difícil para o cérebro dele processar e que por isso ainda precisa de ajuda. Nesses momentos é importante deixar um pouco o controle da situação na mão da criança. O papel dos pais é oferecer momentos nos ambientes que possibilitam brincadeiras corporais como os parques ou praças. Vocês podem ir até o local em horários mais tranquilos e vazios. Deixe que seu filho escolha o brinquedo em que se sente melhor… não importa se ele não consegue nesse momento e se tiver que explorar todas as opções.

Geralmente, as crianças com dificuldades no processamento das informações vestibulares apreciam mais os escorregas e as gangorras pequenas que balançam para frente e para trás. Caso ele aceite ir a um balanço, coloque seu filho no seu colo com você sentado no balanço. Prefira os movimentos lineares e lentos. Quando ele aceitar se arriscar a sentar no balanço sozinho, veja uma opção em que ele alcance os pés no chão e assim, além de oferecer maior segurança, ele poderá controlar a intensidade do movimento, isso trará conforto e segurança.

Em casa, sentados no chão, use brincadeiras de “cair”. A criança pode sentar na sua perna e fazer um cavalinho e depois cair para o lado em cima de uma almofada… sair rolando nas almofadas ou ainda, vocês podem construir uma rampa no sofá para subir e escorregar, proporcionando um bom movimento do corpo e controlado. Brincar de se balançar numa cadeira de balanço ou na rede aninhada no colo dos pais e segurando um bichinho de pelúcia bem “fofinho” também gera prazer e conforto com a situação do movimento.

São inúmeras as possibilidades de estimular o movimento do corpo, deslocamento da cabeça, trocas posturais e explorar diferentes posturas… sempre lembrando que as crianças têm sua história, seu perfil sensorial e que embora o processamento das informações vestibulares seja fundamental para o desenvolvimento infantil, podemos propor de forma tranquila e respeitando ritmo de cada um.

Um grande abraço, Ana Andreotti e Teresa Ruas

Referências Bibliográficas

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Parham, L. D.; Fazio, L. S. A Recreação na Terapia Ocupacional Pediátrica. Livraria Santos Editora Com. Imp. Ltda, 2002. 267p

Kandel, E. R.; Schwartz, J. H.; Jessel., T.M. Principles of Neural Science (4 th ed.). New York, NY: McGraw- Hill, 2000.

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