Olá a todos! Nessa semana, eu estive um pouco ausente por motivos de saúde, mas estou de volta. E nada melhor do que abrirmos a semana, com uma boa reflexão sobre o valor de nossas práticas diárias como mães e eternas aprendizes com o nosso ‘velho’ e conhecido cotidiano.
Ao ver o vídeo- link abaixo- sobre o método milagroso que faz com que o recém- nascido se acalme e pare de chorar em questões de segundos, recordei- me, rapidamente, de práticas que minhas bisavós, avós e minha mãe também faziam e, da mesma maneira. E que eu, ainda criança, as colocava em ação quando embalava as minhas bonecas durante as minhas brincadeiras, nas quais elaborava e internalizava o meu papel como mãe.
https://www.youtube.com/watch?v=YQ76LNX5Zcg Enrolar os recém- nascidos, embalá-los, embrulhá-los, acalentá-los e fazer chiados- chiiiiiiiiii- em seus ouvidos são ações muito antigas, milenares, seculares… Atividades tão presentes no dia a dia da maternagem, realizadas de diferentes modos e em várias culturas, que até são tidas como atos inerentes a uma mãe e a um pai, diante do choro descontrolado de um recém- nascido. Ou seja, ações que expressam a existência de uma mãe e de um pai, mesmo que eles não saibam pela ciência que o barulho do chiado seja muito semelhante ao do útero, que o recém- nascido gosta de sentir mais acolhido/enroladinho/embrulhadinho porque é assim que ele vivencia os seus últimos meses no útero, diante do escasso espaço. Penso que, mesmo que reconheçamos a fundamental importância da ciência em nossas vidas, temos que validar também condutas e atividades que foram descobertas e construídas culturalmente, diante da própria intuição de mães em suas trajetórias diárias de aprendizagem com os seus bebês e durante o ato de maternar. Em uma época em que a intuição era o recurso mais valioso para o ser humano conseguir respostas diante de uma situação- problema. Porque antes mesmo da ciência existir como tal, a intuição humana era o caminho mais fidedigno para encontrar respostas diante de perguntas e dúvidas oriundas do dia a dia e do próprio processo de existir e de viver.Mães que não contavam com as ‘infalíveis’ técnicas, teorias e métodos batizados pela ciência, contavam mesmo era com o valor das experiências diárias e dotadas de muito sentido. E por isso foram mulheres tão sábias, mesmo que não adquiriram nenhum diploma universitário e/ou algum título científico. Mas foram sábias e perpetuaram os seus conhecimentos ‘de geração em geração’, pois compreenderam o que de fato significava ter experiências com sentido. Compreenderam com os corpos vivos, a alma e o coração pulsantes que “a experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço”- Larrosa-. A intuição humana e a experiência com sentido faz com que observemos os detalhes cotidianos, acima de tudo, com os olhos do coração e do afeto. É como se a intuição, especialmente a materna, acalentasse as nossas angústias e medos. Não de maneira imediatista, mas de uma forma mais natural e saudável. Afinal de contas, …”o sujeito da experiência, ou seja, a mãe que aprende diariamente, se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponibilidade fundamental e como uma abertura essencial”- Larrosa-. E infelizmente esse nossa capacidade humana de intuir, de ser disponível, de ter paciência e de aguardar a resposta do outro está perdendo forças e a validade diante do ritmo contemporâneo atual- em que não temos tempo para sentir, capturar e vivenciar as delicadezas e sutilezas cotidianas, como, por exemplo, compreender e sentir o choro de nossos bebês, como uma resposta ativa do quanto são vivos e do quanto sentem falta de estarem bem apertadinhos no útero materno e, ouvindo os sons específicos que existem apenas naquela morada- e, dos dizeres autoritários da ciência, os quais desvalidam o valor dos sentimentos e dos afetos na resolução diária dos problemas cotidianos, como, fazer um bebê se acalmar e parar de chorar diante do acalento de um colo materno.E quando reflito sobre a importância em validarmos ações típicas de nossos cotidiano, não estou sendo contra os avanços científicos. As descobertas científicas foram e são extremamente valiosas, mas não podemos permitir que ações tão milenares, antigas e próprias de nossa cultura só ganhem notoriedade quando validadas pelo discurso científico, com números, frequências e aplicabilidade.Meu Deus! Antes de qualquer método, técnica… existe a ação humana como forma de expressão de um ser humano que sente, que observa, que intui, que planeja, que resolve… existem mães que embalam os seus filhos e que os observam a todo o instante. Existem mães que permitem que o conhecimento seja adquirido e construído a partir da relação direta com os seus filhos, aos poucos e, sem o imediatismo e sem a cobrança de não poder errar, experimentar e fazer alguma atividade/conduta quantas vezes forem necessárias. E mais do que isso, existem mães que validam os conhecimentos e práticas enraizados em nossa cultura. Aqueles passados de geração em geração no cuidado com o recém- nascido, que, frequentemente, são ‘esquecidos’, só porque a ciência ainda não os enxerga como métodos.Que bom seria se o conhecimento diário e cotidiano pudesse ser a base para toda e qualquer investigação científica, ainda mais no campo da maternidade. Afinal de contas, mãe sabe que não existe receita, teoria e nem método eficaz que dê todas as respostas. A maternidade é sinônimo de vivência diária, de corpo a corpo, de intuição, de muitos sentimentos à flor da pele, de muitas tentativas e erros e, de muita aprendizagem e experiência dotada de sentido cotidiano e cultural. Portanto, espero que nós mães sejamos mais fortes e mais resistentes no intuito de darmos mais atenção a nossa capacidade de intuir, sentir, desvelar… Que possamos escutar, mais atentas, os aprendizados provindos das experiências de nossas bisavós, avós e mães. Elas foram muito sábias! E que a ciência seja honesta para afirmar o quanto necessita dos conhecimentos cotidianos, da cultura e da intuição materna e humana para continuar a sua existência.Um grande abraço, com afeto, Maitê Maria e Tetê