Nesse contexto de pandemia em 2021, especialmente diante do número alarmante de mortes em nosso país nas últimas semanas, sabemos o quanto cada VIDA de cada cidadão brasileiro deve ser prioridade de toda a nossa sociedade e sistema de saúde em nosso território nacional. Cada morte deveria ser sentida da mesma forma por todos nós, especialmente pelos órgãos responsáveis pela segurança e saúde de todo e qualquer brasileiro. Cada morte deveria se reverter em ações sociais e púbicas e de forma potente e rápida para que a VIDA prevalecesse em todo o nosso país, especialmente nos grupos prioritários.
É com muito pesar, tristeza, mas também esperança que nós- Teresa Ruas, Aline Hennemann e Denise Suguitani- fundadoras de redes em prol da prematuridade e famílias como o projeto interdisciplinar prematurosbr e a Ong prematuridade.com- decidimos escrever esse texto com o grande objetivo de gerar maior conscientização de toda a população sobre o grupo prioritário e que merece toda a atenção e cuidado nesse contexto de Covid19 que são as nossas gestantes, puérperas e bebês, especialmente os prematuros e/ ou bebês em situação de risco e que estão, nesse momento, em um contexto hospitalar, lutando pela vida.
Nesta semana, tivemos o relato da Dra. Mayara Capucho, obstetra do interior do Paraná, e mãe da Júlia, prematura de 26 semanas, que atualmente está com 7 meses de idade cronológica. “Foi uma semana difícil. Não estive em atendimento direto a esta paciente. Mas o simples relato do caso e a vivência com a prematuridade, lembrou-me da fragilidade da vida. No serviço hospitalar, ao qual faço parte do corpo clínico, tivemos uma paciente, gestante, 26 semanas gestacionais, infectada pelo coronavírus. Gestante é paciente de risco, sua labilidade imunológica a coloca como uma paciente potencialmente grave. Uma evolução rápida da doença e infelizmente a perda fetal. Uma vida, a perda de um ser. Não existia condição para o nascimento. O casulo materno não resistiria. A vida materna deve ser preservada. Mas, e a vida intra uterina?! Em que momento ela é evidenciada? Sim, como obstetra eu sei que o possível foi feito, eu sei que a mãe natureza agiu. Mas a Júlia minha filha nasceu com 26 semanas e essa vida intra uterina também tinha 26 semanas. E um vírus, uma epidemia, uma falta de consciência e de atitude coletiva a levaram. “
A realidade das gestantes e puérperas tem sido muito dura ao longo do último ano. Com a Covid-19 acometendo de forma progressiva a população mais jovem, o número de gestantes contaminadas vem crescendo de forma significativa, o que faz com que o número de nascimentos prematuros aumente de forma preocupante. Se antes da pandemia o país já tinha uma taxa de mortalidade materna considerada elevada por órgãos de saúde mundiais, em julho de 2020, um estudo norte-americano pelo “International Journal of Gynecology” mostrava que 77% dos óbitos de gestantes ou puérperas no mundo haviam ocorrido no Brasil e afetaram as mulheres negras quase duas vezes mais em relação ao total.
Em 3 meses, os registros de morte de grávidas com Covid em MG é quase igual ao total de 2020. A contaminação das mães causa grande preocupação, não só pelo risco de morte, mas também pelo impedimento do contato com seus filhos. Sabemos que o parto prematuro causa inúmeras consequências a curto, médio e longo prazo, não só físicas, mas principalmente emocionais. Neste cenário a busca pela presença dos pais dentro da UTI neonatal é fundamental, até porque pai e mãe não são visitas. Eles fazem parte do cuidado dessa criança.
É preciso priorizar, dentro das políticas públicas, os serviços de saúde que acolham as gestantes, os bebês prematuros e suas famílias. Garantir práticas baseadas em evidências, principalmente para mulheres que testam positivo para SARS-CoV-2 e para seus filhos. Mantê-los juntos fisicamente sempre que possível. Caso contrário, nossas próximas gerações irão colher as tristes e irreversíveis consequências desse atroz distanciamento entre bebês e pais.
Diante desse contexto complexo, viemos aclamar para que possamos, cada um de nós, ser parte ativa dessa rede de proteção em prol de nossas gestantes, puérperas e prematuros. Se você conhece alguma gestante, CUIDE DELA!
1-Faça compras de supermercado para ela. Vá ao banco para a retirada de dinheiro ou pagamento de contas. Sabemos que evitar ambientes fechados e aglomerados é a maneira mais efetiva de proteção contra esse vírus, ainda mais em grupos que não se tem recomendações específicas para a vacinação. Ir à rua para uma gestante é um grande ato de cuidado com a saúde dessa mulher.
2-Leve um comida pronta para essa mulher que vive momentos de extremo medo, diante de uma experiência tão esperada e desejada, como é a gestação de um filho.
3- Brinque ao ar livre com os filhos mais velhos dessa gestante, pois momentos de descanso são necessários, especialmente se essa mulher estiver vivenciando uma gestação de risco.
4-Ligue para essa mulher para papear um pouquinho, pois ficar em isolamento social não tem sido fácil para ninguém.
5- Auxilie nas atividades diárias típicas de uma casa. E caso, você adentre ao lar dessa gestante, use, obrigatoriamente, a sua máscara. Lave as suas mãos e passe álcool. Essas medidas tão simples e que demandam uma conduta individual podem salvar vidas e evitar nascimentos prematuros.
6- Se você teve contato com alguma pessoa que está investigando o covid 19, não se aproxime dessa gestante e faça a sua quarentena, cuidando da sua saúde e a do outro.
E, caso você conheça alguma puérpera que está em UTI Neonatal com seu prematuro, nesse momento, o primeiro gesto que clamamos é que você tenha empatia a todo sofrimento e angústias vividos por ela, pelo pai e toda família. Se o nascimento prematuro tiver acontecido pelo covid 19, não culpe ou julgue essa mulher e essa família. Sabemos o quanto podemos nos infectar, mesmo realizando todas as medidas cabíveis de proteção.
Ofereça apoio e suporte a todas as atividades externas, como as citadas anteriormente. Chegar do hospital exausta e encontrar a geladeira com frutas e comidinhas frescas não tem preço algum que possa pagar a alegria que sentimos. Sei o que estou dizendo, pois já enfrentei a prematuridade duas vezes em minha vida e jornada como mãe.
Não insista nas ligações e mensagens no celular. Essa família está em um momento difícil. Ás vezes desejamos que ninguém nos pergunte nada. Apenas desejamos um colo e um ombro, sem palavras… apenas com afeto e empatia… e em momentos de pandemia, todo esse abraço terá que ser por telefonemas… telefonemas sem perguntas, apenas para a escuta ou para afirmar que você está ali para o que essa família precisar.
Estimule o aleitamento materno. Nunca diga para essa mulher que ela não está produzindo o leite necessário para o seu prematuro. Nunca julgue ou culpe uma puérpera que está tentando produzir o alimento mais precioso para o seu bebê- o leite materno-, mas ainda não está conseguindo a produção suficiente.
Acolha e ofereça a escuta ao o homem- pai desse prematuro. O homem também chora, sofre, angustia e precisa de acolhimento afetivo. O choro não pode ser confundido por fraqueza. Nunca!
E se você não conhece nenhuma gestante, puérpera ou prematuro aja como um bom cidadão. Se coloque no lugar do outro. Cuide da sua saúde, da saúde coletiva durante todos os dias. Use máscara, mesmo ao ar livre. Lave as mãos e passe álcool. Evite aglomeração. Faça o isolamento social. Você também é responsável por cada vida em nosso território nacional. Você, eu, nós todos somos responsáveis pelas vidas e, especialmente, pelas novas vidas que são os nossos bebês. Juntos podemos vencer tudo isso. Juntos e com a vacinação da nossa população. E juntos inclui VOCÊ.
Um grande abraço, com afeto e esperança, Teresa, Aline, Denise e Mayara
Matéria completa aqui: https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Teresa-Ruas-Vida-de-Prematuro/noticia/2021/04/teresa-ruas-pandemia-e-preciso-priorizar-servicos-de-saude-que-acolham-gestantes-bebes-prematuros-e-suas-familias.html