Olá a todos,
Vocês já devem ter percebido que a cada mês conversamos um pouco sobre os sistemas sensoriais e sua importância para o desenvolvimento infantil global. Essa semana, vamos contar um pouco sobre o que é Propriocepção e qual a importância desse sistema sensorial no desenvolvimento global das crianças. Especialmente as nascidas prematuras.
Vocês já devem ter visto crianças pequenas “usando” e “buscando” informações proprioceptivas…. mas, provavelmente desconheciam esse termo pouco usual.
Propriocepção ou Sistema Proprioceptivo, é a informação sensorial recebida pelos nossos músculos e articulações e que promove, sobretudo, noções da postura do corpo no espaço e consciência corporal. O sentido de propriocepção se relaciona de perto com o sentido vestibular, nos dando consciência da posição do corpo.
Você sabia, que é justamente a propriocepção que torna possível que uma pessoa guie sua perna ou braço, com grande habilidade para ajustar automaticamente o movimento sem ter de observar cada ação motora realizada em nosso dia a dia?
Quando a propriocepção está funcionando de forma eficaz, a posição do corpo de um indivíduo é ajustada automaticamente para evitar que ele caia de uma cadeira, por exemplo. Você não precisa olhar exatamente para o assento da cadeira e a posição do seu corpo para sentar-se com segurança.
Seu cérebro, recebe essa informação rapidamente! E caso, você perceba que se sentou na pontinha da cadeira, imediatamente, faz um ajuste no quadril ou uma reação nos pés e consegue arrumar a postura para não cair. Essa sensação de percepção do corpo que sentou “errado” e os ajustes que se seguem é responsabilidade do seu sistema proprioceptivo.
A propriocepção também permite que a mão manipule com habilidade objetos tais como lápis, botões, colheres, escovas, entre outros. Quando, usamos talheres ou um copo por exemplo: não precisamos olhar especificamente para esses instrumentos para saber como o pegamos e o que fazemos com eles. Os movimentos, acontecem de forma automática e harmoniosa.Descer da calçada ou de pequenos degraus de modo sincronizado e coordenado também é conseqüência da propriocepção eficiente. Muitas funções, não é mesmo?
As crianças nascidas prematuras podem ter dificuldades no desenvolvimento do processamento sensorial e aqui no nosso site temos falamos um pouco sobre esse assunto.
Assim, como os comportamentos de “reatividade”, isto é, sobre as dificuldades de perceber e discriminar sensações táteis, as nossas crianças podem ter dificuldade em processar informações proprioceptivas e com isso, apresentar prejuízos no desenvolvimento das noções do corpo no espaço, na graduação dos seus movimentos ou planejar as ações do seu corpo.
Muitas vezes, ao observar crianças pequenas com alterações ou atrasos no processamento sensorial e que implica no sistema proprioceptivo podem parecer crianças “atrapalhadas”, “descoordenadas” ou ainda, por outro lado, pouco ativas no espaço, inseguras, passivas em relação aos desafios motores do ambiente.
Se pensarmos na imagem de um parquinho de crianças pequenas, elas geralmente estão agitadas, falantes, felizes, subindo, descendo e enfrentando os desafios motores e sensoriais que esse ambiente rico em experiências lhes proporciona.
Entretanto, podemos observar também crianças que estão mais agitadas do que as outras. Muitas vezes, colocando sua segurança em risco ou de outras crianças. Pois, as sensações de subir, escalar, pular, empurrar, puxar, dão muito prazer à elas. precisam dessas informações sensoriais de forma exacerbada para conseguir “perceber” seu corpo no espaço.
Esse pode ser o retrato de uma criança com atrasos no desenvolvimento do processamento sensorial. Por outro lado, também pode-se observar crianças com essa mesma questão, mas que o seu perfil é o oposto. Por causa da sua dificuldade em se perceber no espaço, saber da capacidade e possibilidades de movimentos que seu corpo é capaz de fazer. Também, por uma constituição corporal com baixo tônus, essas crianças mostram-se mais passivas nesses ambientes, podem tropeçar e cair “sem motivos”. São desajeitadas, para ultrapassar obstáculos e podem inclusive se machucar quando se arriscam nas brincadeiras com mais movimento.
As nossas crianças nascidas prematuras, sobretudo o prematuro extremo Podem, ter atrasos nessas habilidades sensoriais e no desenvolvimento da sua percepção corporal. Pois, nos primeiros meses ou anos de vida, precisou ser privada de algumas sensações que são imprescindíveis. Como as sensações de tato profundo, “co-contrações”, uso de pesos, resistência no corpo, exploração do espaço e das diferentes posturas, nesse ambiente durante as brincadeiras.
E por que é importante sabermos disso e conhecer os mecanismos do Sistema Proprioceptivo? Porque quando temos consciência de como nosso corpo se desenvolve podemos proporcionar experiências e vivências que serão necessárias para a criança ao longo da vida. Poder caminhar na rua, subir e descer a calçada, usar ferramentas, interagir socialmente com outras crianças em brincadeiras de bola, de corda, no parque, vestir-se, comer, etc. Dependem, da integridade na atuação da Propriocepção em conjunto com os demais sistemas sensoriais.
Além, dos parques e das experiências do corpo no espaço que podemos proporcionar o desenvolvimento da propriocepção. As atividades que possam envolver força e resistência também são efetivas.
Por exemplo: carregar ou puxar uma caixa cheia de brinquedos, ajudar a mãe a carregar uma sacola do supermercado, fazer desenhos grandes no chão de joelhos, brincar de pular ou puxar com cordas, ajudar a mãe a arrumar a casa arrastando cadeiras e mesinhas.
A mandíbula é também um local do corpo enriquecido de receptores proprioceptivos. Por isso, mordedores são benéficos, assim como os alimentos duros e crocantes como cenoura crua, torradas, maçã, pipoca, etc.
Portanto, as atividades do dia a dia são ricas em sensações, inclusive as proprioceptivas e que contribuem para o desenvolvimento saudável da percepção corporal. Caso, você encontre sinais de dificuldades no seu filho em relação a autonomia nas atividades do dia a dia, na sua relação com os obstáculos, desafios do ambiente como no parque, nas brincadeiras com outras crianças ou demais atividades, converse com seu pediatra sobre a possibilidade de uma avaliação com um terapeuta ocupacional.
Um grande abraço,
Ana Luiza e Teresa Ruas