Relato da mamãe de Otávio para o mês roxo: vamos falar sobre a prematuridade

Olá a todos! É com imensa gratidão que divulgo o relato da mamãe Andressa, como uma forma potente de suporte emocional para tantas outras famílias que nesse exato momento enfrentam a dura realidade de uma UTI Neonatal . Vamos encher esse site de relatos reais nesse mês da prematuridade. Afinal de contas, quando nos vemos nos relatos de outra pessoa, podemos nos sentir mais fortes e confiantes para enfrentarmos a nossa realidade com a prematuridade.

Por Andressa, mãe de Otávio:

Novembro, mês da prematuridade, mês em que meu filho completa cinco meses de vida (idade cronológica) e eu, que já me sinto completa, só agradeço todos os dias por tê-lo comigo, crescendo e se desenvolvendo a cada dia um pouco, no tempo dele. Sim, no tempo dele! Primeira lição que meu filho me ensinou: – “mamãe respira fundo, porque eu tenho o meu tempo”. E assim, tempo a tempo, adoramos contar nossa história!

Sou uma jovem mãe, que aos 32 anos achou que estava pronta para a maternidade. Conversei com meu marido e eu, que sempre planejei tudo em minha vida, mais uma vez estava programando a gestação. Porém, já nos primeiros meses de tentativas algo estava soando estranho, pois minha menstruação não descia, eu não engravidava e minha pele e cabelo davam sinais de um desequilíbrio hormonal. Após quatro meses assim, busquei ajuda médica e veio o diagnóstico de Síndrome de Ovário Policístico (SOP) – desde os 14 anos usei anticoncepcional o que mascarou esses sintomas. Pois bem, iniciei o tratamento com indutores de ovulação, muito confiante, até demais.

O primeiro mês de tentativa foi muito atípico, pois os efeitos colaterais da medicação foram muito parecidos com os primeiros sintomas de gravidez. Uma pequena confusão me levou a crer que era possível sim estar grávida, mas não. Passaram-se mais cinco meses e eu ainda não tinha o meu resultado positivo tão esperado, mas sempre tive fé. Tenho minha religião e minhas crenças e estaria sendo ingrata se dissesse que Deus não me ajudou nestes momentos. E no mês de novembro de 2018, mais precisamente no dia 08/11, descobri que estava grávida, aproximadamente, seis semanas de gestação.

Que sentimento maravilhoso, que alegria no coração! Vivi dia a dia a gestação de forma plena, muito feliz e realizada. Me dediquei bastante para me manter saudável, e assim, manter meu bebê saudável, inclusive fiz fisioterapia pélvica todas as semanas. Não tive intercorrências, infecções, pressão alta, nada nada. Até que, com 33 semanas comecei a sentir dores fortes nas costas, achei que fosse algo corriqueiro, e talvez por inexperiência minha, continuei trabalhando e me esforçando. E na bela manhã do dia 06/06, com 34 semanas, já com dores intensas fui trabalhar como sempre. Chegando ao local de trabalho, minhas colegas mais experientes me pediram para que voltasse para casa descansar. Logo ao chegar em casa vi que meu tampão havia saído.

Liguei para minha médica, que fica na cidade a 75km da qual eu moro e ela pediu que me deslocasse o mais rápido possível para o hospital. Uma hora depois do tampão ter saído comecei a sentir contrações. Chegando ao hospital (a 75 km) eu estava mesmo em trabalho de parto, tomei a primeira injeção para amadurecer os órgãos do Otávio e a partir dali passei a viver uma bomba de emoções. Fui tomada pela alegria de finalmente conhecer meu filho, sentir seu cheiro. . . ao mesmo tempo, sentia medo. . . sentiria mais dores? Ele estava pronto? Eu estava pronta? Como seria tê-lo antes da hora?

Logo minha médica me disse que entraria com a medicação para tentar atrasar o parto, tentar mantê-lo mais tempo dentro de mim. E nesta tentativa de segurá-lo foram três dias, mas ele tinha muita vontade de nascer. Já na primeira noite senti as contrações aumentarem, a dor aumentar e ele coroar. Na manhã do segundo dia, muito líquido, tive a chamada bolsa rota. E no terceiro dia pela manhã, minha médica marcou a cesárea para as 14h. Enfim, conheceríamos nosso sonhado e amado filho.

E assim foi, no dia 08/06, Otávio nasceu com 34s5d. Foi um parto difícil, com algumas complicações, meu grande amor nasceu roxinho, estava encaixado e precisou de muita força para sair. Já nasceu lutando, nasceu guerreiro. Sabe aquele momento de ternura, ímpar, em que o recém-nascido é colocado no colo da mãe para o primeiro afago, primeiro contato pele a pele, que todas nós imaginamos e repassamos em nossa mente durante a gestação? Não vivemos. Foi sim uma correria para reanimá-lo e levá-lo para a UTI Neo. Eu já nem sabia mais o que pensar, só orei e pedi para que meu filho sobrevivesse.

Já sabia que ele iria se “hospedar” na UTI Neo, mas não sabia que seria em meio a tanta correria. Outra grande lição que ele me ensinou: lutar sempre, jamais desistir. Em meio a essa luta, a notícia de que ele estava bem, nasceu saudável, com 45cm e 2170kg. Passamos sim por quase tudo o que mães de prematuros passam. Digo passamos, porque passamos como uma máquina por cima, unindo forças e sempre com muita fé. Passamos pela apneia, pela icterícia, pela hipoglicemia e pelos choros de fome também. Marquinhas de sonda, roxinhos de perfurações. 

Me preparei bastante durante a gestação, li bastante e segui à risca várias recomendações médicas. O que me ajudou bastante na hora de amamentar, eu consegui estimular a amamentação e esgotar o colostro já no segundo dia (não sei para você, mas para mim isso é uma vitória!). Mas nunca, nunca mesmo, me preparei para sair do hospital sem meu filho nos braços. Que tortura, que sentimento pesado, que tristeza. Sabia que estava aos cuidados de profissionais amorosos, dispostos, mas não eram os meus cuidados, não era o nosso lar, nosso cheiro. Aprender a deixá-lo, na marra, para o bem dele, foi a minha maior lição!

Após 16 dias de hospital, com o coração cheio de alegria, de amor e de muita vontade de viver fomos para casa. Mas esse mesmo coração ainda estava apertado, pois no dia da alta recebemos a notícia de que nosso bebê nasceu com um cisto no plexo coroide e hidrocele no testículo e que agora o tempo, aquele mesmo tempo, poderia se tornar nosso aliado, pois com o passar dos dias, crescendo e se desenvolvendo bem, o corpo se ajustaria, e ambos poderiam desaparecer. E assim fez o tempo. E a fé. Com três meses de idade cronológica repetimos o exame e o cisto regrediu. Ah tempo amigo, mais uma vez me ensinando. E assim seguimos, com muita fé, vivendo dia a dia nosso amor, nossa união e nossa esperança de uma vida longa e saudável ao lado do nosso filho Otávio. 

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