Olá a todos!
Hoje, vamos começar a nossa conversa imaginando uma cena:
Um bebê chora acordando seus pais às 3hrs da manhã. O pai vai ao quarto do seu bebê e gentilmente o pega no colo. Imediatamente, o choro do bebê se torna um “soluçar”. O pai segura o seu filho no colo e se senta numa cadeira de balanço, balançando bem devagar para frente e para trás. O bebê pára de soluçar. Rapidamente o bebê está tranqüilo e volta a dormir. Mais tarde, neste mesmo dia, o pai do bebê está numa longa fila de Banco e percebe que ele tem poucos minutos para retornar ao trabalho. Ele se sente ansioso, nervoso e começa a balançar seu corpo para frente e para trás, vagarosamente enquanto permanece na fila. Ele sorri ao reconhecer que ele está tentando acalmar o seu Sistema Nervoso da mesma forma como ele acalmou seu bebê na noite anterior.
Kranowitz, C.A.
Quando pensamos nas sensações do nosso corpo e quais os sistemas sensoriais implicam nesse processo, muitos de vocês pensam rapidamente nos “5 sentidos”….certo? Entretanto, nós possuímos 7 sentidos e eles são responsáveis pelo desenvolvimento de inúmeras funções do nosso corpo. Os outros dois sentidos que faltam, geralmente, as pessoas até reconhecem as habilidades nas quais eles atuam, mas desconhecem seus nomes…então vamos lá…
Os cinco sentidos mais “famosos” e conhecidos são: visão, audição, olfato, paladar e tato. Há muitos anos atrás, uma das autoras que dedicou sua vida na pesquisa do desenvolvimento infantil e processamento das sensações foi a terapeuta ocupacional Jean Ayres, que acrescentou os outros dois sistemas em suas pesquisas como fundamentais ao desenvolvimento infantil e responsáveis pela construção da base do desenvolvimento da coordenação motora, práxis e aprendizagem acadêmica. Esses dois outros sistemas e não menos importantes são: Vestibular e Propriocepção. Os sistemas vestibular e proprioceptivo, acrescidos às informações táteis, são os sistemas de base para a função da Integração Sensorial, ou seja, fundamentais para manterem o nosso corpo apto às demandas ambientais.
Aqui no nosso espaço vamos explorar o tema e o papel das sensações e da Integração Sensorial, pois sabemos quão fundamental esses processos são para o desenvolvimento infantil e o olhar especial que precisamos ter com os nossos prematuros. Com frequência falamos que as sensações são as vias de comunicação entre o cérebro, o corpo e o mundo, e, que uma interrupção na formação intraútero desses órgãos e sistemas, somado ao tempo em que nossos bebês permanecem na UTI Neonatal, podem interferir no desenvolvimento e evolução dessas estruturas e suas funções. Ao conhecermos sobre o funcionamento e a importância de cada sistema, podemos potencializar nossas interferências, mediações e acolhimento com os bebês e crianças para uma interação mais saudável, produtiva e tranquila com os objetos, ambiente e com as pessoas.
Hoje vamos falar do Sistema Vestibular e sua importância ao desenvolvimento infantil. Esse sistema é pouco conhecido, mas com certeza você vai reconhecer sua função! As estruturas desse sistema ficam localizadas dentro do nosso ouvido interno e ele é responsável por processar as informações de movimento, da ação da gravidade e das mudanças da posição da cabeça em relação ao nosso corpo. É o Sistema Vestibular que nos diz quando nosso corpo está em movimento ou parado, bem como, a direção e a velocidade desse movimento. Ele é quem nos ajuda a estabilizar (parar) nossos olhos enquanto nos movemos e nos diz se os objetos à nossa volta estão em movimento ou não. Mesmo com nossos olhos fechados, graças às ações do Sistema Vestibular, sabemos se o nosso corpo está numa postura horizontal ou vertical.
Por isso, esse sistema é tão importante…ele nos fornece informações sobre o corpo em relação ao que acontece no ambiente e alguns autores denominam o Sistema Vestibular como o “coração das sensações”, porque ele estabelece relações diretas e influencia outras informações sensoriais como os sistemas visual, auditivo, tátil e proprioceptivo. Além de nos dizer sobre o movimento do corpo e do espaço, o sistema vestibular prepara nosso corpo para aprender novos movimentos (novas ações motoras). Precisamos das informações deste sistema para preparar nossa postura, manter o equilíbrio, planejar ações, nos mover, nos acalmar e regular o comportamento.
Sim! “Acalmar”, “regular” e “acolher¨ também são funções do Sistema Vestibular, porque esse sistema que tem suas relações com o movimento do corpo e do ambiente é capaz de modular nossas sensações, como se fosse o botão de “volume” do nosso cérebro. Por isso, quando nosso bebê chora e está desconfortável, o colo dos pais, o balanço no corpo da mãe ou do pai é um fator extremamente calmante… assim como uma criança pequena que não quer dormir, dificilmente resiste a um passeio de carrinho ou o colinho dos pais… o movimento é conforto…
Por outro lado, quem nunca quando adulto, começou a balançar o corpo ou o pé durante uma reunião quando está com sono para aumentar o “volume” da entrada de sensações e ficar mais alerta? Pensando nisso, há também situações em que nosso sistema vestibular é extremamente ativo, junto com os demais sistemas e o nosso alerta fica mais alto, o “volume aumenta”….por exemplo, quando as crianças estão engajadas em brincadeiras com movimento, corridas ou se balançando num parque tendem a falar mais, gritar, ficar mais agitadas…
No início do desenvolvimento, o movimento é o conforto, é o colo, acolher o bebê, acalmar… depois entram as brincadeiras de jogar a criança para cima, fazer aviãozinho, pular com eles nos ombros como cavalinho… todas essas brincadeiras sociais e afetivas ativam sistema vestibular que vai captando velocidade, direção, postura do corpo e se conectando com outros sistemas sensoriais e, a partir dessas experiências reunidas e integradas, nossos bebês começam a sustentar sua cabecinha, rolar, ser capaz de realizar as trocas posturais para enfim começar seu próprio deslocamento.
Então? Vamos pensar em quais os momentos e que tipos de movimentos vocês estão proporcionando aos filhos? Um embalo no colo? Uma dança? A oferta do leite nas mamadas sentados numa cadeira de balanço? Um salto de cavalinho com a criança nos ombros? Uma brincadeira no parque ou descansar balançando numa rede?
Seguindo esse mesmo contexto do parágrafo acima, sabemos o quanto alguns prematuros necessitam de recursos de home care, por exemplo, ou outras necessidades que dificultam a saída de casa ou para se aventurarem pelos parques. Isso aconteceu com Maitê Maria em seus primeiros anos de vida. Então… eu aproveitava o ambiente de casa, o momento do banho, os momentos de interação lúdica e afetiva, com músicas e contação de histórias e muita brincadeira envolvendo o meu corpo e o corpo dela para proporcionar a sensação do movimento, com muito acolhimento e afeto.
Portanto, convidamos a todos os pais a brincarem com os seus filhos. Mesmo que as crianças possuam algum tipo de necessidade especial, sempre podemos oferecer a elas momentos de brincadeiras, com a sensação do movimento e com muito amor… afinal de contas, são esses momentos de interação que irão potencializar ainda mais o crescimento e amadurecimento neurológico de nossos filhos e sempre com muito afeto.
Um grande abraço, Ana Luiza e Tetê