Sociedade doente, crianças doentes.

Olá queridos seguidores, hoje gostaria de compartilhar uma reflexão com vocês sobre algumas condutas que muitos espaços destinados à infância ainda defendem. Na verdade, fui escrevendo algumas coisas e as frases ganharam corpo. Resolvi postar. Espero que gostem. 
Sociedade Doente, Crianças Doentes

Brincar livre, brincadeiras antigas/ novas, brincadeiras em grupo, descobertas, imaginação, criatividade, serelepices, ócio criativo, fantasia, diversão… Atividades e momentos tão inerentes à infância, à criança e que muitas vezes não recebe a atenção devida pelos pais, pelas escolas e pelos cuidadores.
Ainda vivemos em uma época em que o ‘brincar livre’ é visto, talvez, como uma atividade menos importante quando comparada ao aprendizado de outras línguas e/ou de conteúdos acadêmicos específicos. Por isso, ainda seja tão ‘comum’ ‘o esquecimento’ sobre a importância do brincar livre e/ou sem atividades estruturadas e/ou dirigidas em muitos espaços educacionais. Esses espaços esquecem ou querem esquecer de que as bases para qualquer tipo de aprendizagem e experiência significativa, seja ela social, acadêmica, motora, afetiva, cognitiva, sensorial, está em uma das atividades humanas mais antigas que qualquer civilização pode conhecer: O BRINCAR!


É uma mera ilusão achar que as habilidades mais complexas podem ser aprendidas sem antes a criança ter experimentado sensações e percepções menos complexas que surgem, por exemplo, diante do próprio descobrimento das competências que o corpo possui e o que ele pode fazer no espaço e com os diferentes objetos que rodeiam a criança. Bater palmas, passar debaixo da cadeira, pular no sofá, se divertir horas com uma caixa de papelão, jogar bola, dar comida para o ursinho, imaginar que está voando como um avião, brincar com os elementos da natureza, passear em tapetes mágicos são atividades tão importantes quanto aprender a ler, a escrever, fazer cálculos matemáticos e, assim, por diante. Inclusive são esses aprendizados provenientes da livre exploração lúdica e imaginação que darão toda a base e compreensão sobre espaço, tempo, corpo, quantidade, relação de causa e efeito/causalidade, entre outros conceitos tão importantes para o futuro aprendizado acadêmico.
E o mais triste é constatar que ainda existem muitos espaços educacionais e de lazer infantil que querem demonstrar aos pais e, com orgulho, os seus espaços tecnológicos ao invés de ‘escancararem’  os seus espaços de livre exploração e de experimentação lúdica. Os parquinhos com os seus equipamentos e infinitas possibilidades, como os antigos e velhos conhecidos baldinhos de areia, muitas vezes não são tão apaixonantes quanto a uma sala de cinema 3D ou aos equipamentos eletrônicos de última geração. 
Realmente é angustiante verificarmos a total ‘inversão de experiências’ que ainda muitas crianças são expostas nos ambientes que circulam e vivenciam o dia a dia.
Porém, por outro lado, é muito bom verificarmos que existem muitos espaços educacionais e muitos movimentos como o ‘slow parent’/ a escola nova que incentivam e demonstram cientificamente a importância do brincar livre para a promoção da saúde infantil. Espaços, educadores e especialistas que são contra a precoce alfabetização, que compreendem que o desenvolvimento é um processo global e não somente motor e/ou cognitivo, que defendem o respeito ao ritmo e a individualização de cada criança, que promovem o brincar livre, guiado pela curiosidade natural infantil e, que permitem que a criança seja simplesmente criança. E o mais importante… que compreendem que a ação humana de brincar é o fio condutor da vida infantil e, portanto, que é o alimento físico, mental, emocional e social de toda e qualquer criança.
Respiro aliviada, mesmo sabendo que ainda temos muito o que fazer em prol da conscientização sobre a importância do brincar em vários espaços.
Venho pensando também que a ‘bandeira sobre a importância do brincar’ tem sido novamente levantada e com mais força por muitos especialistas/educadores, por talvez, um motivo bem triste: as crianças estão adoecendo e ficando a mercê de experiências importantes e que promovem o bem estar global. 

Muitas crianças, atualmente, estão ansiosas, não dormem bem, não comem bem, apresentam atrasos significativos na aquisição da linguagem, nas competências sociais e afetivas, na habilidade em se concentrarem e, assim, por diante… Como resultado temos muitos e muitos diagnósticos feitos erroneamente. Crianças que recebem listas e listas de tratamentos e medicamentos desnecessários. Consultórios lotados e escolas que não conseguem lidar com as diferenças individuais.
E quando afirmo isso não estou me opondo aos avanços diagnósticos. Muito pelo contrário. Eles são importantes, mas desde que feitos de maneira que respeitem as características individuais de cada criança, que respeitem a história de vida e, principalmente, que levem em conta o estilo de vida contemporâneo que a maioria das crianças são ‘obrigadas’ a encarar. Por isso, temos que pensar muito antes de ‘patologizar’ nossas crianças. Temos que pensar se elas estão tendo o espaço para serem simplesmente crianças. Se elas estão livres para darem muito mais valor ao baldinho de areia e ao parquinho, ou se precisam valorizar mais as aulas extracurriculares de inglês, balé, computação e etc.
Temos que lembrar de que criança precisa,  antes de tudo, brincar para que os  olhos brilhem, para que o coração pulse, para que a alma deseje aprender e para que o corpo queira crescer e amadurecer com equilíbrio.
Portanto, mesmo diante de alguns movimentos em prol do brincar e da infância existentes na atualidade, vamos refletir um pouco mais sobre a inversão de valores que a sociedade impõe a nossas crianças. Afinal de contas, elas estão ficando doentes porque a nossa sociedade e cultura também estão doentes. Se as crianças pudessem ser somente crianças e serem mais respeitadas diante da sua natureza ocupacional lúdica, com certeza estariam muito mais felizes, tranquilas e saudáveis. 
Até o próximo post, um grande abraço, Tetê e Maitê Maria    

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