Olá a todos que agora nos seguem nesse novo espaço e bem mais organizado, não é mesmo? Preciso afirmar sobre o quanto, ainda, os avanços do mundo tecnológico nos impõem grande crescimento para sabermos navegar mais sobre o mundo virtual e suas ferramentas. Mas, aos poucos, a equipe do prematuros.com.br está avançando…
Atualmente, venho recebendo vários depoimentos de mães e pais que não estão tendo acesso ao método canguru. Método esse que deveria ser realizado desde o momento inicial de todo bebê, incluindo o que está intubados, com CPAP, com uso do oxigênio e, não apenas o que está totalmente estável.
Sabe-se o quanto o prematuro demanda tempo para se estabilizar totalmente. O mundo de uma UTI Neonatal é uma montanha russa. Os bebês se estabilizam e desestabilizam em questão de segundos. Quem foi mãe ou pai de UTI vai compreender essa afirmação.
Na minha experiência como mãe de UTI duas vezes e profissional da saúde que trabalha com prematuros e crianças de risco, é claro a existência de momentos em que é melhor deixar o bebê quietinho na incubadora, poupando a sua energia e movimentação. Porém, dizer para pais de prematuros que o filho só poderá ir para o colo deles, após a retirada de qualquer equipamento ou necessidade de O2 é uma realidade inaceitável e infelizmente ainda em muitas UTIs Neonatais desse nosso país.
Convido a você que está lendo esse post, a recordar do texto escrito sobre a importância do Método Canguru para a saúde materno infantil https://prematuros.com.br/pele-a-pele-metodo-que-une-a-ciencia-ao-afeto/. Contato pele a pele significa VIDA para pais e bebê.
A Humanização em ambientes hospitalares é muito possível e desejada nos dias atuais, especialmente, diante de tantos estudos que comprovam o papel do afeto humano para a organização neurológica e bem estar do bebê e todos os efeitos positivos sobre a saúde dos pais, como assinalado no post acima.
É tão possível humanizar o acompanhamento dos prematuros em fase hospitalar que existem espaços que se os pais não podem estar presentes para colocar o bebê no colo, eles permitem a entrada de uma outra figura afetiva, com saúde e condições para tal ação, como uma avó, avô, tio ou irmão mais velho.
E para provar o que estou afirmando, trago hoje o depoimento de Gabriela, mãe de Elisa, nascida de 26 semanas gestacionais e que teve a sua mãe/ avó de Elisa, como figura afetiva importante para realizar o Canguru em um momento muito difícil para a Gabriela. Uma avó que recebeu todo apoio de uma equipe hospitalar, especialmente das enfermeiras, para segurar um bebê prematuro, ainda bem instável e com uso do CPAP. Infelizmente, os pais não tem fotos desse lindo momento, mas tem todo o depoimento para dar para nós e encorajar pais e equipes a lutarem e exigirem por seus direitos em prol da humanização.
Segue o depoimento de Gabriela, que aliás fará parte de nossa equipe como Mãe de UTI Neonatal e todas as suas experiências que nos inspiram ter fé, esperança e otimismo no enfrentamento da prematuridade extrema. Em breve ela estará em nosso layout da equipe interdisciplinar.
Vovó canguru
Privilégio é sempre a palavra que me vem à cabeça quando recebo um convite para escrever sobre a minha experiência com a prematuridade! São tantas histórias e detalhes que sobram palavras… vamos a mais um pedacinho!
Como já contei aqui, Elisa nasceu prematura de 26 semanas em decorrência de incompetência ístimo cervical-IIC, ou seja, meu útero não sustenta o peso de um bebê! E, no meu caso, só descobrimos isso quando a cerclagem (procedimento de “costura” do colo do útero) não era mais possível porque minha bolsa já estava protusa, mas, felizmente, quando ainda foi possível salvá-la, já que a maioria das mulheres só descobrem o IIC com a perda de uma ou algumas gestações!
Além do IIC, na hora do parto, minha placenta simplesmente não saiu e o útero fechou com toda aquela placenta lá dentro. Lembro que brinquei com o médico ‘Dr., o senhor quer dizer que durante toda a gestação meu colo do útero devia estar “fechado” e estava “aberto” e agora que devia estar “aberto” pra sair a placenta ele “fechou”?’. Meu médico soltou um palavrão! Entendi que era grave… após exames, contatou-se acretismo placentário!
Todo esse processo me levou a passar por mais uma cirurgia 20 dias depois do parto. Cirurgia simples em day hospital, que culminou em diversas complicações é uma internação de 10 dias na unidade semi-intensiva. Coitado do papai! A filha na UTI e a esposa na semi-intensiva. Mas, esse assunto fica pra outro post!
No dia antes da minha cirurgia lembro de dizer: “Filha, a mamãe não vem te ver amanhã, você fica bem? O papai virá, mas a mamãe não porque vou ao médico. Mas, depois de amanhã eu volto, tá?”. Até parece que ela entendeu… no dia seguinte não fui e Elisa se comportou muito bem!
Mas, quando não voltei no outro dia, Elisa sentiu… dá pra acreditar? Esses bebês sentem tudo! Perdeu peso e as apnéias se intensificaram… coração da mãe em desespero!
À época, meu marido estava apenas há 3 meses no emprego, não conseguia passar o dia todo com ela como eu fazia!
Além disso, lá do outro lado, uma bactéria tomou conta do meu corpo e quem fosse me ver só poderia ir ver a Elisa depois de tomar banho e trocar todas as peças de roupa! Logística fácil, fácil!
Nessa confusão toda eu só pensava que minha filha precisava de mim, precisava do meu colo, mas o meu estado de saúde só piorava… foi aí que tivemos a ideia: “e se a vovó fizesse o canguru no lugar da mamãe?”. Meu marido conversou com a equipe da UTI explicando que eu não tinha previsão de alta e toda a questão logística… avaliaram e logo toparam a nossa ideia: a vovó faria o canguru no lugar da mamãe!
Aliás, cabe aqui um enorme agradecimento aos meus pais nesse período! Minha mãe ficava com Elisa, meu pai tirou férias e ficou direto comigo no hospital (quem o conhece sabe o enorme desafio que deve ter sido pra ele ficar lá sem fazer NADA, às vezes até o barulho da televisão piorava minhas dores de cabeça), permitindo que meu marido cumprisse suas obrigações no novo emprego! Nossa rede de apoio foi enorme e sensacional, assunto pra um post inteirinho!
Falei pra minha mãe que todos os dias eu orava com a Elisa logo cedo e antes de ir embora, que conversava e cantava para ela enquanto estava com ela no colo! “Meu barco é pequeno e grande é o mar, Jesus segura minha mão, Ele é meu piloto e tudo vai bem na viagem pra Jerusalém”. Elisa era um barco realmente pequeno!
Vovó estava assustada, mas topou o desafio! Durante toda a minha internação ia até a UTI de manhã e de tarde para um canguru… orava, conversava, cantava e dava carinho para aquela “coisica pequena” – como a chama até hoje! E Elisa correspondeu tanto amor e carinho, voltou a ganhar peso e a melhorar das apnéias, logo estava em pleno desenvolvimento de novo. Coração distante da mamãe voltava a bater aliviado! Eu não podia estar perto, mas tinha alguém ali me representando, dando carinho e amando como eu. Canguru de vovó é um privilégio já que carinho e amor fazem toda a diferença para essas “coisicas pequenas”.
Vejam as lindas palavras da vovó Jeane sobre a experiência:
“Me lembro da emoção que foi carregá-la , quase não a sentia no meu colo de tão pequenina , medo de deixá-la escorregar entre os braços. A emoção de encostar Elisa no meu colo, ela abrir os olhinhos e dar um sorriso. A Suely que a acompanhava naquele dia me falou : “ isso é uma sorriso … se ela estivesse se sentindo mal, ela choraria. “E eu chorava. Cantava várias musiquinhas para ela , hinos e canções de louvor a Deus ! Orava por ela … muito ! Agradecendo por aquela vida, pelo milagre daquela vida e a entregava nas mãos do Deus que a criou ! Eu tinha um milagre nos meus braços. Difícil foi parar de carregá-la. Depois, cada vez que ia visitá-la, era quase instintivo querer passar a mão naquela coisinha, mas não podia. Ela já era tão íntima minha, era tão minha … Experiência fantástica !”
Até hoje essas duas tem um amor entre elas inexplicável! Ou será possível explicar?