A tristeza pode ser permitida na infância?

Olá queridos seguidores,
Há uns meses atrás, teci algumas reflexões sobre a tristeza e as frustrações vividas e sentidas no mundo da maternidade e, como produzimos culpa diante de todo esse processo que deveria ser encarado como natural, esperado e extremamente humano.   http://teteruas.blogspot.mx/2015/03/por-que-nao-podemos-nos-sentir-tristes.html
É fato que todos os valores sociais impostos em nossas relações afetivas ainda nos impõem que compreendamos a tristeza como algo negativo, um sentimento que deve ser combatido e que, muitas vezes, torna-se um meio para patologizarmos a própria vida.
Porém, quando vejo que existem cineastas corajosos e valentes e que apresentam um belíssimo filme/projeto- divertida mente- / deixe seu filho ficar triste – texto descritivo do filme lá embaixo- para mostrar às crianças que a tristeza, a raiva, a frustração são sentimentos que devem ser sentidos, elaborados, compreendidos e validados tal como a alegria e o êxito, um sopro de esperança atinge a minha alma de que é possível construirmos um mundo -para as nossas crianças- mais humano, mais real, mais igualitário, com menos patologias criadas pela cultura e, portanto, com outros valores.
Crianças PODEM sentir a tristeza e EXPERIMENTAREM frustrações em seu dia a dia e, em suas relações afetivas. Ao contrário do que os valores atuais tecem, esses sentimentos/experiências fazem parte do desenvolvimento e da formação psíquica de qualquer indivíduo, ou pelo menos, deveriam fazer parte. E precisam ser acolhidos, significados e compreendidos. Os pais possuem o dever de acolher e ajudar os filhos a elaborarem os seus sentimentos, sensações e percepções construídas diante do meio familiar,externo, social e cultural. Pois os pais deveriam ser a expressão máxima de afeto e de acolhimento. 
É impossível não querer e/ou não permitir que os nossos filhos se sintam tristes ou frustrados. Mas é inaceitável que nós que somos pais, não os acolhamos. E quando afirmo sobre o processo de acolhida, não estou em momento algum, dizendo que devemos esconder a nossa tristeza de nossos filhos ou termos ‘medo’ ou ‘vergonha’ em pontuarmos que também sentimos tristeza, também choramos. Pelo contrário. A sinceridade dos sentimentos que borbulham em nossa alma e em nosso coração pode ser o primeiro grande passo para o acolhimento afetivo e efetivo de nossos filhos. Pois eles irão perceber, desde pequeninos, que as pessoas afetivamente significativas a eles também choram, também sentem frustrações e também se entristecem. Podem crescer percebendo que a tristeza também faz parte do dia a dia e não transforma as pessoas em melhores ou piores. Da mesma forma que existem os sorrisos, a alegria e a extrema felicidade, também existem as lágrimas, os soluços e o choro. E que também não somos mais fortes ou mais fracos por chorarmos e, sim, que somos humanos.
Não compreendo como negar um sentimento fidedigno e que pulsa no peito, por exemplo, quando uma criança perde um jogo, quando um amigo a agride, quando enfrenta dificuldades em suas relações afetivas, quando perde o sono diante de pesadelos, quando percebe a tristeza de seus pais, quando vivem situações difíceis como uma mudança brusca de rotina, a separação, uma doença e/ou outros fatores estressores.  Mesmo desde muito pequeninos, por exemplo, quando precisam retirar a chupeta, quando necessitam despedir dos pais diante de viagens de trabalho, quando sentem saudade dos avós, adaptação na escola e, assim, por diante…
Será que é certo negar ou não validar os sentimentos reais de desconforto que uma criança sente, porque a sociedade afirma que não é normal, saudável ou bom sentir alguma frustração ou tristeza? Sentimentos não são patologia. São a expressão mais fidedigna de uma alma e de um coração vivo.
É lógico que as experiências e os sentimentos difíceis não elaborados, não significados, não compreendidos podem se transformar, sim, em uma patologia. Mas patologia, como uma depressão- uma tristeza profunda, real e que afeta, de forma significativa, o dia a dia do ser humano-, é muito diferente do que possibilitar que os nossos filhos expressem a tristeza em suas palavras, atividades e brincadeiras. E que esse sentimento seja validado e que nós pais permitamos momentos nobres de elaboração das sensações difíceis, como os diálogos francos, como os abraços verdadeiros e as brincadeiras entre pais e filhos.
 Todas essas nossas possíveis ações são muito diferentes de negar, de fugir e de não permitir que os nossos filhos chorem e compreendam o que significa a tristeza, as frustrações e as dificuldades humanas.
Como dito antes, a expressão da tristeza humana não significa, necessariamente, uma patologia. Pode ser, sim, um meio para expressarmos a nossa existência, a nossa potência e desenvolvermos sentimentos tão importantes como a esperança, a paciência, a perseverança e a resiliência. Crianças mais resilientes, serão adultos mais resilientes e, com certeza, perceberão mais facilmente que as relações humanas são constituídas por diferentes sensações, sentimentos, sabores, valores e cores. Tudo isso é chamado de VIDA! Viver não pode ser fictício, precisa ser um processo real.
Finalizo por aqui e espero que nós pais saibamos validar mais os momentos de tristeza expressos no clã familiar e, que saibamos distinguir a diferença entre o processo natural da vida e uma possível patologia/problema a ser investigado e acompanhado por um especialista. E que saibamos amar verdadeiramente os nossos filhos, com a certeza de que o afeto é o meio mais potente em qualquer relação humana e toda a sua gama de sentimentos e sensações. 

Um grande beijo a todos, Tetê e Maitê Maria

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