A UTI Neonatal e a Prematuridade aos olhos de um Neonatologista

Olá a todos os seguidores desse espaço, especialmente os pais de prematuros extremos.

Hoje nosso site apresenta um texto retirado doterceiro capítulo do livro Prematuridade Extrema: Olhares e Experiências, da Editora Manolle- 2016-, escrito pelo pediatra e neonatologista Dr. Felipe Rossi.  Ele nos deixa uma mensagem real, objetiva e extremamente esperançosa. Obrigada Dr. Felipe Rossi por ter participado conosco em um projeto tão cheio de fé, força e amor pelos nossos prematuros guerreiros.

  Espero que  gostem! Até o próximo post.  

Relatos de um pediatra neonatologista: algumas especificidades da prematuridade páginas 66- 68 

 ¨ A UTI neonatal é um ambiente estranho.   Estranho aos pais, que geralmente nunca estiveram envolvidos anteriormente com esse mundo em miniatura, alarmes, luzes, aparelhos pouco palatáveis a qualquer pessoa a eles não familiarizada.   Estranho aos familiares, muitas vezes, assim como os pais, pegos de surpresa com a notícia da necessidade da passagem do bebê por uma unidade de alto risco, por vezes apenas por horas, em outras por meses.

Surge, invariavelmente, o questionamento sobre a capacidade de quem estará cuidando de tão frágil e esperada criança,  além de muitas vezes uma certa dúvida sobre a real necessidade do bebê, principalmente os mais maduros, terem que ficar separados de sua família.

 

Estranho aos médicos e profissionais de saúde que não são especializados em neonatologia – ciência que foi criada no início da década de 1960, visando estudar as particularidades desse período de vida-. Sim, esses profissionais são habituados a se preocuparem com questões como manutenção de temperatura, minúcias quase neuróticas em cálculos e ajustes de medicações e calibragem de aparelhos para bebês que pesam meio quilo, e outros que têm peso oito vezes maior, quatro “pesados” quilos!

É um cenário difícil para quem não foi treinado para ele e, muitas vezes, também para quem o foi!   Estranho ainda mais e, principalmente, para os bebês. Separados de suas mães e de seus pais também devido a prematuridade, por vezes extrema, completando-se pouco mais da metade das esperadas 40 semanas de gestação (devido a questões de saúde materna, ou uma ruptura precoce de membranas amnióticas, trabalho de parto prematuro, …), ou devido a inadaptações após o nascimento, como diferentes distúrbios respiratórios -tanto diferentes causas como gravidades-, ou ainda alterações no controle de sua taxa de açúcar após a separação da placenta…

São incontáveis as situações que podem levar bebês a precisar de um auxílio ao início de sua vida fora do útero, sem toda a ajuda que antes recebia de sua mãe.   Apesar de haver uma grande gama de situações que podem trazer um recém-nascido à UTI, aqui abordarei aspectos mais ligados à prematuridade. De certa forma, apesar de ser um grupo de pacientes com risco de morte e de possíveis sequelas, estes são os pacientes em que a família mais frequentemente apoia a equipe da UTI neonatal.

Há um certo entendimento que este bebê não teria chances de sobrevida sem um ambiente como o da UTI. Isto torna mais fácil uma cumplicidade entre a família e a equipe multiprofissional.   Como neonatologista, aprendi a acreditar em situações que muitos tratam como quase milagres, quando cuidamos de frágeis bebês, com algumas centenas de gramas ao nascer, e podemos permitir a ida deles aos braços e colo de quem mais os merecem, seus pais, após dias, semanas, meses de cuidados na UTI neonatal. 

Infelizmente, não são todos que conseguem superar as agressões e invasões que procedemos em seus pequenos corpos, usando cateteres, tubos, sondas para garantir-lhes uma sobrevivência digna, ao deixar esse estranho mundinho inicial.    Para muitos, somos otimistas demais, mas como não o ser quando vemos o resultado de tanto trabalho resultando na ida do bebê para sua casa, para o centro de sua família. Não há como não se emocionar muito  e, positivamente, a cada dia de boas notícias  – e, infelizmente, essa emoção também tem sua antítese nos dias de más notícias-.

É um trabalho apaixonante para quem o realiza, contando com o apoio de muitos profissionais – nutricionistas, enfermeiros e seus auxiliares, terapeutas ligados a fonoaudiologia, fisioterapia, terapeutas ocupacionais, além de médicos neonatologistas e demais áreas que se interligam nestes cuidados ( como cirurgiões, neurologistas, oftalmologistas,…).   Talvez a melhor analogia sobre o percurso destes bravos guerreiros seja a visita a uma montanha-russa. Altos e baixos até que se volte à normalidade. Ainda insistindo nesta ideia, sabemos que há algumas mais tranquilas, com percalços e solavancos menos intensos -o que, na situação em questão, seria o melhor cenário-. Porém, outras têm voltas e rodopios, “loopings”, enormes subidas e quedas apavorantes, mas mantendo a perspectiva que se possa chegar íntegro até o final.

Dr. Felipe Rossi.

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