AGUARDE UM TEMPINHO A MAIS PARA VISITAR UM BEBÊ PREMATURO

Imagem: arquivo pessoal, não permitida a utilização sem autorização.

Inicio esse post com uma afirmação minha e que sempre costumo dialogar com os pais e profissionais da saúde: a vivência e as consequências da prematuridade, especialmente da extrema, não se finalizam com a alta hospitalar. Isso quer dizer que o fato do prematuro ter ganhado peso, adquirido estabilidade clínica e vencido várias batalhas, diante da imaturidade global de seus órgãos no momento de sua internação, não significa que ele não precisará de alguns cuidados especiais a longo prazo, especialmente durante os primeiros anos de vida.  Dessa forma, a família de um bebê prematuro passa e passará por modificações em sua dinâmica emocional, social, afetiva e profissional, não somente no momento da internação, mas também no período da alta hospitalar e pós alta; justamente por ter que acolher todas as necessidades provindas da prematuridade.

Em relação à dinâmica social de pais prematuros, sabe-se o quanto todos os familiares e amigos mais próximos deseja conhecer de perto o novo (s)  membro (s) familiar, colocá-lo (s) no colo ou tocá-lo (s), especialmente em casos de um longo período de internação, como aconteceu com minha filha Maitê Maria, nascida de 23 semanas gestacionais e 1 dia, que permaneceu 6 meses em uma UTI Neonatal, vindo para casa com o serviço de home care.

É importante frisar o quanto o isolamento social familiar, especialmente o materno, após a alta hospitalar irá continuar por um tempo prolongado, sendo ainda muito maior para as famílias nas quais o (s) prematuro (s) necessita de cuidados clínicos específicos. E uma das características desse isolamento social inclui a restrição e/ou a proibição das visitas ao bebê (s), até mesmo para familiares e/ ou amigos muito próximos aos pais do (s) prematuro(s).

Maitê Maria com sua mãe realizando o contato pele a pele
Imagem: arquivo pessoal, não permitida a utilização sem autorização.

A restrição e/ou proibição das visitas é uma orientação médica na alta hospitalar e que deve ser seguida à risca pelas famílias de prematuros e isso não quer dizer uma superproteção parental, neurose de mãe de UTI traumatizada ou motivo para desavenças familiares. Ela é necessária e fundamental porque é uma das formas mais potentes de impedir que o prematuro entre em contato com ¨germes¨, tais como os famosos vírus respiratórios. Inclusive, estamos em um momento atual de pandemia por um vírus respiratório, no qual o novo coronavírus provoca grandes consequências respiratórias.  

Porém, além desse vírus temido na atualidade, temos um campeão em causar bronquiolite e pneumonia em crianças de até 2 anos de idade, especialmente para as consideradas de risco, tais como os nossos guerreiros prematuros. Esse campeão é o tão conhecido VSR – vírus sincicial respiratório- e tão temido por todos os pais de prematuros. Mas, os vírus respiratórios são tantos, que somado ao VSR, temos também o causador da H1N1 e mais um tanto de vírus que pode causar uma gripe normal ou resfriados em adultos, sem grandes consequências, mas que para uma criança pequena e com um sistema imunológico imaturo pode significar uma internação hospitalar ou até mesmo a sua própria vida, diante de complicações respiratórias graves.

No entanto, apesar de existirem muitos tipos de vírus respiratórios, sabe se que o VSR ganha em primeiro lugar quando o problema é a bronquiolite e pneumonia nos pequenos.  Sabemos que o VSR é o grande responsável por até 80% das bronquiolites e 40% das pneumonias em crianças menores de dois anos, especialmente nas consideradas de risco, tais como os prematuros, prematuros com a doença pulmonar  crônica da prematuridade – broncodisplasia- e os cardiopatas congênitos.  Vírus esse que pode estar presente nas mãos, mucos/ secreção respiratória, gotículas de saliva, roupas, face de uma pessoa gripada/ resfriada e que, com um simples toque ou aproximação da mesma a um bebê com um sistema imunológico imaturo, pode atingir os  seus olhinhos, boquinha ou nariz e  provocar uma grande dificuldade para respirar, chiado no peito ou até uma insuficiência respiratória, tão característica de uma bronquiolite mais grave em prematuros.

Maite Maria em UTI Neo com seu pai
Imagem: arquivo pessoal, não permitida a utilização sem autorização.

É importante frisar que o VSR pode estar presente em qualquer adulto ou criança maior, especialmente nas que já frequentam a escolinha, no período de sua sazonalidade/período de maior circulação, de acordo com cada região do nosso país: Norte: Fevereiro a Junho,  Nordeste, Centro- Oeste e Sudeste: Março a Julho e Sul: Abril a Agosto-. Mas não é porque o adulto, irmãozinho mais velho ou a priminha de 5 anos não estejam apresentando sintomas clássicos de uma gripe, causada pelo VSR, que não há o perigo real de contágio do vírus campeão em causar bronquiolite e pneumonia em nossos prematuros. Porque nem sempre as pessoas com um vírus respiratório terão os sintomas, já que o sistema imunológico das mesmas já pode ter uma outra maturidade e memória para combater aquele vírus que já pode ser bem conhecido por ele, diante das diversas gripes que essas pessoas já tiveram ao longo de suas vidas.

É importante salientar que o sistema imunológico de todo ser humano é parcialmente imaturo até os 4 primeiros anos de idade, desenvolvendo-se até completar a sua maturidade no período da pré-adolescência, por volta dos 12 anos de idade. Portanto, especialmente nos primeiros anos de vida de todo bebê, a imunidade ainda é muito baixa, o que requer um cuidado especial por parte de todos os pais, como, por exemplo, a restrição das visitas nos primeiros meses de vida e manter o calendário de vacinas em dia.

E se o sistema imunológico é imaturo em todos os bebês, mesmo os que nasceram a termo e que não apresentaram nenhuma complicação clínica em seu nascimento, o dos prematuros também será, mas com uma maior imaturidade, quando comparados com os bebês a termo. O grande problema do prematuro é que ele recebeu parcialmente da mãe os anticorpos, que são células de defesa, chamadas de imunoglobulinas.  Elas são importantes para combatermos as infecções e reinfecções provindas de vírus, bactérias e fungos, sendo que o maior aporte de defesas do organismo acontece nas últimas quatro semanas de gestação, período em que os prematuros, já não estão mais no útero materno.

Para mim, como mãe de dois prematuros e que vivenciou a proibição de visitas por um longo período de tempo, essa explicação é fácil de ser dada e de ser compreendida por todos, retirando a imagem de que a mãe e o pai é quem não permitem as visitas por serem neuróticos, superprotetores ou traumatizados. Existe uma explicação que vai além do nosso instinto de proteger os nossos prematuros. Existe, acima de qualquer sentimento dos pais, uma explicação biológica que justifica a restrição ou a proibição de visitas.

Pais de prematuros, como eu e meu marido, que passaram por um período de longa internação e que possuem filhos com broncodisplasia ou problemas cardíacos, temem a mínima possibilidade de seus bebês contraírem qualquer vírus, em especial o vírus sincicial respiratório, o famoso VSR, e necessitarem de uma outra internação.  Nós pais de prematuros sonhamos com a alta hospitalar e o retorno a nossa casa e não admitimos que qualquer pessoa com potencial de transmissão de qualquer vírus, entre em contato com os nossos pequenos. Porque acima de tudo prezamos pela saúde e bem estar de nossos filhos. Isso quer dizer que em época de sazonalidade de vírus respiratório e extremamente perigoso para a saúde geral de um bebê prematuro, as visitas devem ser muito restritas e todas as medidas de higienização das mãos com água, sabão e álcool 70%, além do uso de máscaras, se necessário, roupas limpas e banho devem ser uma obrigatoriedade para as pessoas bem próximas de seu (s) bebê (s), tais como os avós ou irmãos mais velhos. Porque quem ama de verdade quer proteger. Porque quem ama de verdade, compreenderá as particularidades de um bebê prematuro. Porque quem ama de verdade entenderá que o isolamento social de uma família prematura, pode salvar uma vida.  Porque quem ama de verdade, não ficará chateado por ter que esperar mais um pouquinho para conhecer o (s) novo (s) membro (s) de uma família prematura. Portanto, em época de coronavírus e sazonalidade do VSR, a campanha é: FIQUE EM CASA E AGUARDE UM TEMPINHO A MAIS PARA VISITAR E CONHECER UM BEBÊ PREMATURO.

Com afeto, Teresa Ruas e Equipe do Prematuros.com.br

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