Licença Maternidade Especial

Olá a todos os seguidores desse espaço. Hoje posto aqui um texto muito importante e especial para as mamães de prematuros. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a licença maternidade especial é uma conquista social e precisa ser comemorada por todos nós que somos cidadãos. 
O post, de minha autoria, foi retirado da plataforma virtual Temos Que Falar Sobre Isso- https://temosquefalarsobreisso.wordpress.com/2015/10/18/licenca-maternidade-especial/-.
Espero que gostem. Boa leitura! 

Licença Maternidade Especial
Ao ler as matérias- Ex: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI258350-10586,00-SENADO+APROVA+LICENCAMATERNIDADE+MAIOR+PARA+MAES+DE+PREMATUROS.html-  – sobre a aprovação do senado diante da licença especial para mães de prematuros, um sopro de alívio e esperança tomou conta do meu coração.  E imediatamente, recordei de toda a minha experiência diante da prematuridade extrema e de todas as adaptações/ mudanças pessoais e profissionais que tive que fazer ao final da minha licença maternidade, equivalente a 120 dias. Até porque a minha licença maternidade começou muito antes de Maitê Maria nascer, diante da minha internação.Meu Deus… mães/pais de UTI Neonatal, especialmente, os de longa permanência e, os bebês prematuros extremos precisam de muito tempo para se recuperarem e fortalecerem fisicamente e emocionalmente.Os bebês na UTI travam uma batalha em favor da própria sobrevivência e da vida. Uma batalha que não existe tempo para acabar, pois cada prematuro extremo responderá de forma diferente e peculiar às adversidades enfrentadas por terem nascido muito tempo antes do previsto, especialmente os que nascem antes das 26/ 28 semanas gestacionais.  Apesar da ciência já pontuar a média de tempo  de internação, conforme as semanas gestacionais e nível de maturidade apresentada pelo prematuro, ninguém afirma o tempo exato e necessário em uma UTI. 
Afinal de contas, cada criança é única e tem o seu próprio tempo e ritmo para adquirir a maturidade global, ganhar peso, recuperar de todas as cirurgias necessárias, enfrentar todos os quadros de infecções, ser independente do oxigênio, desmamar das sondas, aprender a mamar, adquirir as condições cardiorrespiratórias necessárias para a alta, entre tantas outras aquisições. Portanto, isso quer dizer que um prematuro extremo pode passar muito mais de 4 meses em uma UTI Neonatal, assim como aconteceu com minha filha.  E ter uma lei que respalda o tempo necessário de internação para após começar a contar o tempo de licença maternidade é um ganho imensurável. Realmente é uma conquista social e que deve ser comemorada com muita alegria.E essa nova lei me enche de felicidade, pois não podemos nos esquecer de que a luta travada pelos guerreiros prematuros em favor da vida, deixa marcas e características muito específicas e que os acompanharão nos primeiros anos de vida, especialmente no que diz respeito às etapas do desenvolvimento infantil, como o desenvolvimento sensório-motor, cognitivo e afetivo.Afinal de contas, a alta de uma UTI neonatal é uma das etapas alcançadas. Apesar de todos os envolvidos sonharem e desejarem a alta hospitalar, essa conquista fundamental para a criança e pais é apenas uma das batalhas vencidas. E para que os prematuros vençam as outras batalhas é preciso tempo, dedicação, estímulos adequados, alimentação adequada, acompanhamento pediátrico/ terapêutico e a presença, preferencial, de uma mãe. Uma mãe que necessita passar mais tempo com o seu filho e acompanhar as suas necessidades e especificidades.E para exemplificar como a luta continua após a alta hospitalar, cito a batalha travada contra a dependência do oxigênio e/ou de uma traqueostomia no ambiente domiciliar. Muitos prematuros extremos recebem alta da UTI, mas vão para a casa com o auxilio de todos os aparelhos e equipe profissional de um home care. Maitê Maria, por exemplo, ficou mais 6 meses, após a sua alta hospitalar com o home care em casa. Isso significa que minha casa era frequentada diariamente por vários profissionais de saúde e que necessitavam colher e dar informações para a mãe. E nesses casos, a nova lei está respaldando essas necessidades também. E após a alta do home care – uma outra batalha alcançada- novos desafios são enfrentados, especialmente, porque os prematuros são crianças que possuem baixa imunidade por um tempo muito maior, principalmente naqueles que a maturação da medula para a produção das células de defesa é tardia. Isso quer dizer que o contato com pessoas não familiares tem que ser evitado. E ambientes externos, tais como creches e/ou escolinhas são abolidos do dia a dia dessas crianças. 
Eu mesma passei meses e meses trancada em casa, não podendo receber nenhuma visita e/ou pessoa que tivesse contato com crianças pequenas e/ou que frequentassem escolas e/ou outros ambientes com grande aglomeração. E a escola para minha filha só foi liberada com 3 anos de idade. Ou seja, Maitê Maria ainda não teve a experiência escolar e eu fui ‘obrigada’ a refazer a minha vida profissional frente a essa realidade. E ter um tempo a mais, garantido legalmente, para os pais tentarem se adaptar a uma realidade não esperada é, sem dúvida nenhuma, uma ação de cuidado à saúde familiar, materna e paterna. E pais mais tranquilos significa criança mais tranquila e feliz.Porque não tem como não falar sobre a vida pessoal de pais de UTI e de crianças que apresentam alguma necessidade especial. Se o nascimento de uma criança sem nenhuma condição especial já causa mudanças psicológicas, emocionais, sociais e pessoais em mães e pais, o que dizer de tais mudanças em pais que além de todas as profundas transformações, ainda necessitam elaborar todo trauma, luto e sofrimento vivenciados?Precisamos de tempo. E afirmo: de muito tempo! Eu e meu marido, somente agora, com quase 3 anos após o nascimento de nossa filha, é que estamos nos adaptando como casal e, não apenas como pais de uma criança prematura extrema que carregou com ela várias marcas dessa condição.Diante de tantas transformações, adaptações, sofrimentos e batalhas alcançadas, nós pais e crianças com qualquer necessidade especial, precisamos de tempo, de acolhimento e de acompanhamento específico, quando necessário. Afinal de contas, mesmo que a vida não pare, os sentimentos perante toda experiência difícil deixa marcas existenciais e que precisam de tempo para serem elaboradas e re-significadas.Agora, precisamos lutar para que mães e pais de crianças com qualquer necessidade/ particularidade especial alcancem o direito legal de receberem acompanhamento terapêutico, especialmente os que enfrentam o pior desfecho da prematuridade extrema que é justamente, a perda da criança. Esses pais precisam ter o direito da licença para que possam ser acolhidos e acompanhados durante a trajetória da experiência e vivência do luto.  E acredito que juntos, somos mais fortes para alcançarmos outras conquistas sociais e que impactam diretamente na saúde e na qualidade de vida dos envolvidos em experiências difíceis. Vamos que vamos…
Grande beijo, Maitê Maria e Tetê 

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