Método Canguru e a UTI Neonatal

Olá a todos os seguidores! 

Diante dos pedidos que recebi, posto aqui o texto de minha autoria e que foi publicado na plataforma virtual Temos Que Falar Sobre Isso. Desejo que mães e pais que estejam enfrentando a dura realidade de uma UTI Neonatal, leiam esse texto e se sintam mais fortalecidos. 

Método Canguru: afeto pele a pele e corpo a corpoO Método Canguru teve sua origem na Colômbia no final da década de 70, no Instituto Materno Infantil de Bogotá, com o principal objetivo de promover melhores condições no acompanhamento do recém-nascido pré-termo e/ou de baixo peso, especialmente, quanto ao desenvolvimento psíquico e afetivo de mãe e bebê.  

No Brasil, as ações desse método tiveram início no SUS somente em 2000 e o primeiro adepto foi o Instituto Materno Infantil de Pernambuco. Atualmente e a partir de 2007, o método ganhou maior visibilidade científica, o que causou uma obrigatoriedade de sua aplicação em todos os espaços que promovem o acompanhamento de gestantes e bebês de alto risco e que necessitam passar por um período de internação. 

Infelizmente, ainda temos muitas diferenças na forma de promover esse método tanto na saúde pública, quanto na privada. Por exemplo, quanto ao tempo destinado a sua execução e aos espaços destinados para o acolhimento da gestante e sua família no período da internação hospitalar. Porém, mesmo que saibamos da necessidade de melhorias no acompanhamento da saúde materno- infantil em nosso país, já conseguimos muitos ganhos, especialmente quanto a importância da humanização em espaços marcados pelo tecnicismo.   Começarei o relato sobre a minha experiência pessoal com o método canguru, relembrando e descrevendo como foi a sensação do meu primeiro contato pele a pele com minha bebê, que naquele momento, pesava um pouco mais de 600 gramas. Minha filha já tinha quase 4 semanas de vida. Porém, a fragilidade de seu corpo e de seu estado fisiológico a impediam de estabelecer qualquer contato mais próximo com o meu corpo. Até esse momento, havia apenas colocado as minhas mãos sobre o seu corpinho e/ou sobre a sua cabecinha.Então… vamos lá…Nunca vou me esquecer da enfermeira Viviane que, naquele dia, chegou bem pertinho de mim  e disse: ‘Maitê Maria quer conhecer a sua mamãe de um outro jeito hoje. Ela me disse que gostaria de ir para o seu colo.”E eu me lembro como se fosse hoje que, ao ouvir aquelas palavras, imediatamente comecei a chorar e de forma intensa. Um misto de sentimentos tomou conta de todo o meu corpo, pois ao mesmo tempo que estava muito feliz, eu fui tomada por um medo arrebatador e por uma culpa gigantesca.Estava feliz porque seria a primeira vez que sentiria a minha filha em meu colo. Sentia medo, porque era uma bebê tão pequena, tão frágil, entubada e toda cheia de fios que não conseguia nem imaginar como uma criança, com pouco mais de 600 gramas, se acomodaria contra o meu tórax. E culpa, porque como especialista que sempre falou sobre os benefícios do método canguru em aulas de neonatologia, estava extremamente assustada diante de todo aquele contexto.Porque apesar de todos os benefícios positivos do método para a saúde de mãe e bebê, existe o medo, a angústia e a ansiedade no coração materno. Dependendo da situação instável do bebê, podem surgir outros sentimentos que dificultam e muito o bem estar dessa mãe, sua autoconfiança e autoestima para a execução do método. E, portanto, nesse momento é imprescindível que toda a equipe hospitalar esteja pronta para acolher as reações maternas, compreendê-las e de forma alguma, forçar e/ou exigir que a mãe esteja pronta psicologicamente para aquela ação.Para segurar um bebê com pouco mais de 600 gramos, que corre um grande risco de vida, entubado, cheio de fios em seu corpo frágil e pequeno, monitorado por várias máquinas… é preciso um fortalecimento afetivo para tal. Afinal de contas, segurar um bebê em que você consegue sentir todos os ossinhos fazendo uma pressão contra o seu próprio corpo, que em todos os instantes cai a saturação e que, em muitas vezes, não permanece por  mais de 10 minutos em seu colo, diante de paradas cardíacas, necessitando ser reanimado… é uma realidade muito difícil e muito diferente da sonhada e desejada por toda mãe ao segurar o seu bebê em seus braços pela primeira vez; por mais que saibamos e sejamos orientadas sobre os reais benefícios do método canguru.Portanto, o acompanhamento psicológico materno é sem dúvida nenhuma a primeira ação para garantir a saúde psíquica afetiva do binômio mãe e bebê, tão pontuada no canguru. E eu afirmo tudo isso diante da minha  própria experiência.  Eu não teria conseguido pegar Maitê Maria naquele dia, se a enfermeira Viviane não estivesse ficado o tempo inteiro ao meu lado, me dando forças e acolhendo o meu sofrimento ao sentir a extrema fragilidade física de minha filha em meu peito. Ela soube transformar a minha dor em uma sensação única de prazer e verdadeiro afeto. Ela pedia para eu esquecer os barulhos das máquinas e me focar naquela sensação em estar recebendo a minha filha em meus braços. Pedia para que eu a olhasse, a cheirasse e cantasse para ela. E por mais que o nosso primeiro encontro tenha durado poucos minutos, consegui ter forças e coragem para enfrentar o tão esperado dia… O dia de colocar a minha bebê em meus braços e peito, tentar transmitir a ela o quanto a amava, apesar de ser tão diferente da bebê que havia imaginado e apesar de ser uma mãe com um coração tão cheio de medos, inseguranças e tristezas.Após Maitê Maria ter voltado para a incubadora, Viviane veio conversar comigo a fim de explicar que o método canguru em bebês de alto risco, como minha filha, seria feito de forma muito gradual e respeitando as condições clínicas da criança e o estado emocional da mãe. E quando ela disse que todos ali respeitavam o estado emocional da mãe, toda aquela culpa foi dando lugar para o meu próprio conhecimento sobre os benefícios do método. Justamente, como eu não me senti julgada e nem cobrada por ter que apresentar forças para segurar uma bebê tão frágil, tão pequena e tão diferente de uma bebê a termo, consegui me fortalecer afetivamente.  O contato afetivo e pele a pele que preconiza o método, em logo prazo, traz benefícios muito importantes, tais como: estabilidade térmica, melhora na frequência cardíaca e respiratória, aumento de peso e uma outra qualidade na expressão afetiva da criança, como, por exemplo, abrir os olhos quando o bebê escuta a voz da mãe. E toda a melhora na frequência cardíaca e respiratória acontece, justamente, porque o bebê sente o barulho do coração da mãe, sente o seu cheiro, recorda das experiências uterinas e se acalma. E bebê mais calmo e mais tranquilo significa melhor estabilidade clínica. E melhor estabilidade clínica significa mais saúde, menos infecções e, consequentemente, maior ganho de peso. E para a mãe que está acolhida e que recebe recursos para elaborar os seus difíceis sentimentos, sentir o cheiro, o calor e o corpinho de seu filho… significa ter um espaço para exercer a maternidade com o seu próprio corpo, ou seja, com um colo que consegue acalentar e com dois braços que conseguem esquentar a sua própria cria e protegê-la.Na verdade, todos esses sentimentos fortalecem a nossa alma e acalenta o nosso coração. E apesar de todas as dificuldades que surgem nos momentos do método canguru em crianças com menos de 700 gramos, nos sentimos mais fortes. Afinal de contas,  é um momento em que dois corpos que se amam, encontram-se concretamente em uma relação de fé, esperança e de muito otimismo. Tudo isso é muita saúde psíquica e afetiva para mães. E mães mais fortes são mulheres mais saudáveis e felizes.  E assim… o método que favorece o contato pele a pele vai, aos poucos, fortalecendo o binômio mãe e filho a partir de um recurso fundamental em todo o processo de internação em uma uti neonatal… o afeto pele a pele, corpo a corpo entre um ser desejado e um ser desejante em acolher, receber e sentir o filho nos braços.    
Um grande abraço, até o próximo post, Tetê, Maitê Maria e Lucca.

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