Meu príncipe guerreiro: relato de uma mãe de UTI Neonatal

Olá a todos! É com grande alegria e gratidão que temos recebido depoimentos de mães e famílias de diversas regiões de nosso país, relatando a experiência vivida diante da prematuridade. Acreditamos que cada relato divulgado aqui seja um suporte afetivo importante para as famílias que estejam enfrentando a dura realidade de uma UTI Neonatal. Afinal de contas, esse espaço é destinado também para compartilharmos experiencias, sentimentos e realidades distintas frente à prematuridade e suas consequências a curto e a longo prazo.

Hoje o depoimento é da mãe Camila e seu guerreiro Antônio. Agradecemos muito pelo seu depoimento.

Meu Príncipe Guerreiro

Desde sempre tive o sonho em ser mãe.

Quando tinha 22 anos descobri que tinha um cisto em meu ovário de 12 cm. Após exames e opiniões médicas, encontrei um médico que optou por fazer uma oforoplastia, ou seja, uma cirurgia plástica no meu ovário, o que iria conservá-lo para uma gestação.

Mas… o tempo passou, e quando tinha cerca de 30 anos o cisto voltou, do mesmo tamanho. Tive que retirar o ovário e a trompa direita e fiquei apavorada com a possibilidade de não pode ser mãe.

Porém, quando decidimos engravidar (eu e meu esposo), bingo, no primeiro mês já estava grávida. Uma gravidez planejada, todos exames anteriores corretos, uso de vitaminas antes da gestação, mas quando cheguei com 28 semanas descobri que tinha polidraminia (excesso de líquido aminiótico).

Com 29 semanas minha bolsa rompeu. Tive que ir às pressas para maternidade, onde ficamos 7 dias internados com a bolsa rota e após esses 7 dias entrei em trabalho de parto e meu príncipe nasceu com 30 semanas, pesando 1550 g.  Não sabemos o tamanho exato, pois teve que ir correndo para o O2 imediatamente.

Não imaginava o que viria pela frente, mal sabia o que seria uma UTI Neonatal. Antônio no dia seguinte pesava 1300 g e tinha pneumonia nos 2 pulmões, travamos uma luta diária contra a pneumonia.

Mas… como poderia meu bebê, tão esperado e tão desejado, estar tão longe de mim, isso mesmo… minhas visitas eram apenas 15 minutos por dia, um verdadeiro pesadelo. Queria estar ao seu lado, acompanhando seu desenvolvimento e cada manobra feita em seu corpinho, mas não podia.

Fiz questão que ele tomasse meu leite, tirava o leite de 3 em 3 horas e levava para o hospital 10 minutos antes de sua mamada, e assim fiz por todo tempo que ele permaneceu no hospital.

Vivemos uma grande luta, engorda 10 g hoje e emagrece 15 g amanhã, pesadelo com o barulho dos monitores, medo de tocar o telefone e ser alguma notícia não desejada. O medo e a insegurança viraram meu maior pesadelo. Todos os dias recebia a mesma informação: não tivemos nenhuma intercorrência, não piorou, mas também não melhorou… que desespero!

Antônio, então com 5 dias de UTI Neonatal saiu do O2 e já respirava sozinho… que maravilha! Porém, um certo dia, quando fui levar meu leite para ele, recebi a notícia que ele tinha tido uma apnéia e por pouco não teve que ser intubado… voltou para o oxigênio.

Somente a fé para acalmar o coração da mãe que tudo que mais queria era amamentar seu pequeno, sentir o cheiro de seus cabelos, mas não podia.

Em alguns dias na UTI, via mães saindo com sorriso no rosto e em outros, mães que saiam para velar os seus pequenos guerreiros. Nada é certo em uma UTI Neonatal, pois tudo pode mudar em um segundo.

Antônio seguiu dias lutando contra a pneumonia, encerrando os 15 primeiros dias de antibiótico e nada da bactéria ser eliminada… mudamos de antibiótico e novamente nada, quando no terceiro antibiótico após 45 dias sem respostas positivas, o médico perguntou se eu era católica e se eu poderia chamar o padre para batizar meu filho. Respondi que era católica, mas meu pequeno seria batizado novamente em minha cidade Paraty.

 Logo após esse diálogo com o médico, soube que Antônio estava com uma sepse grau 2 (infecção generalizada) e pneumonia.  Meu Deus, como poderia aquele bebê tão pequeno superar tudo isso…

E por incrível que pareça, após a terceira dose de antibiótico a  bactéria foi eliminada, mas  Antônio não conseguia sair do O2. Descobrimos que Antônio tinha displasia broncopulmonar, mas aos poucos foi diminuindo a quantidade de O2, até que então consegui pegar meu bebê no colo pela primeira vez. Quanta emoção! Os médicos tiveram que me colocar sentada , porque tiveram medo de eu desmaiar diante de tanta emoção.

O meu bebê estava ali nos meus braços, meu menino desejado, amado, um pequeno guerreiro, quanto orgulho tinha dele por estar forte e superado todos os desafios. Cada machucado nas mãos do meu filho eram como facadas no meu coração, mas para ele era bobagem. Ele tão pequeno e tão forte, tirou tudo de letra.

Após uma semana em que peguei ele pela primeira vez, então dei o meu peito e ele já não tinha a sonda em sua boquinha e, sim o peitinho da mamãe… Minhas esperanças foram se renovando, pois ele já podia sentir o calor do meu colo por 15 minutos… os 15 minutos mais lindos do mundo.

Quando completamos 59 dias de UTI Neonatal, meu coração não aguentava mais. Entrei em pânico, berrava, chorava, tive febre, tive vontade de morrer, falei para minha mãe e meu marido que não aguentava mais, queria meu filho e mais nada, eu estava ficando fraca… mas, Deus que sabe de tudo, soube que realmente não aguentava mais um dia. Fui levar o seu leite às 6 horas da manhã, quando a médica me disse para trazer a bolsa do Antônio, pois ele iria sair naquele mesmo dia, uma hora antes da visita. Meu Deus… quanta gratidão, cai aos pés da médica, agradecendo por aquele dia ter sido o mais feliz da minha vida.  

Hoje Antônio esta com 2 anos e 10 meses e esbanjando muita saúde.

Meu príncipe guerreiro!

Camila

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