Meu Valente Valentim: depoimento de uma mãe de UTI Neonatal

Bom dia a todos! Segue mais um relato de força, superação e fé de uma mãe de UTI Neonatal, com o seu filho prematuro.

Me chamo Úrsula, tenho 33 anos e moro em Cacoal Rondônia e sou mãe do Valente Valentim!

A historia do meu valente começa ainda na barriguinha da mamãe, pois quando eu descobri a gravidez, não a aceitava.

Vinda de uma família, onde todas as minhas irmãs tiveram seus primeiros filhos bem novas, em torno de 16 / 17 anos, já havia decretado em minha vida que não iria ter filhos, não queria em hipótese nenhuma.

Mas, como nada na nossa vida é por acaso, fui escolhida para ser mãe de prematuro.

Apesar de toda situação difícil em minha gestação, como sinais de depressão, resolvi não pecar no pré-natal. Como trabalho para uma Operadora de saúde e tenho plano, resolvi escolher o que era, ao meu ver, o melhor médico da operadora. Fiz todas as ultrassonografias no tempo certo e até mais para ter a certeza de que estava tudo bem.

Aparentemente, tudo parecia estar bem, quando com 29 semanas gestacionais, fiz uma ultrassom que mostrou uma perda de liquido e a idade gestacional não condizia com o feto, pois era como se o meu bebê estivesse com 27 semanas, podendo ser um bebê PIG -pequeno para a idade gestacional- . Em conversa com esse médico, que julguei ser o melhor, o mesmo me disse para esperar 30 dias, para uma nova ultra de controle.

Dentro de mim, sabia que algo já não estava bem, de imediato, troquei de médico, mais uma bateria de exame, detectando que eu estava com pressão alta. O médico  na hora solicitou atestado de 2 semanas, injeção para amadurecer o pulmão do bebê e já me adiantou que ele poderia vir prematuro, porém a intenção era segurar até as 34 semanas. No final dessas 2 semanas, no último ultrassom, RCF – retardo do crescimento fetal- severo, insuficiência placentária, sendo necessária uma UTI Neonatal.

Ali começava meu desespero… encaminhada as pressas para o HOSPITAL DE BASE, na capital do estado, único com suporte de UTI Neonatal, cesárea de emergência, no dia 06/01/2019 as 00:06, com 1.030kg, 36cm, nasceu meu guerreiro, todo roxo, e conforme informações do médico, mais 1 dia, ele poderia não ter sobrevivido.

Após entrada na UTI, Valentim teve algumas intercorrências, como infecção abdominal, glicose baixa e aquele desespero no ganho de peso. Só quem é mãe de prematuro sabe a alegria de ganhar 5 g e a tristeza de perder também. Logo no inicio estava indo tudo bem, após 2 dias já respirava sozinho e a conduta era o ganho de peso pois, com 1.225kg, iriamos ser transferidos para a Unidade Canguru, sonho de toda mãe da Uti. Afinal, é desesperador quando chegava o final das visitas, de pensar que a noite, tudo podia acontecer e ninguém queria receber uma ligação durante a noite.

Após longos 32 dias de Uti, fomos transferidos para Unidade Canguru e ali iniciou nossa novela. Valentim começou a apresentar ictérica, os médicos achavam que era aquela ictérica tardia e assim como surgiu, iria desaparecer. Porém, colhiam os exames de sangue a cada 3 dias e começaram a perceber que a bilirrubina direta estava alterada, e só aumentando nos exames.

Foi solicitado a visita de gastropediatra, pois de início teve suspeita de artresia biliar. Realizou exame de ultrassonografia de abdomen total, colangioressonância e nada alterado. Continuou na rotina de exames de sangue e a bilirrubina lá em cima. Como não tinha um diagnóstico preciso, foi solicitado atendimento fora do estado na área de hematologia. Nesse meio tempo, Valentim teve uma crise de cólica ainda no hospital e como resultado, hérnia inguinal bilateral, estávamos a ponto de ganhar alta para poder viajar a São Paulo, visto que HEMATOLOGISTA PEDIÁTRICO, não tinha no estado. Após a avaliação do cirurgião pediátrico, nada de alta até fazer a cirurgia da  hérnia, pois se viajássemos e acontecesse alguma intercorrência no caminho, a hérnia encarcerar, poderia prejudicar o Valentim. O médico examinou os exames e Valentim com anemia, não seria possível a cirurgia. Além disso, não tinha vaga no centro cirúrgico, tudo parecia estar dando errado, pois se o bebê não fizesse a cirurgia não iria viajar. Após toda mobilização dos médicos, 1 bolsa de sangue, colhido exame de sangue, vamos para cirurgia, 8horas em jejum, e o bebê não podia chorar muito por conta da hérnia, muita aflição, ele chorava de um lado e eu de outro.

Não posso reclamar da equipe da UTI NEONATAL / UCIN do HOSPITAL DE BASE ARY PINHEIRO, em Porto Velho, tive muito apoio, inclusive revezam o colo para o Valentim não chorar muito. Que equipe maravilhosa! Após a cirurgia, a nossa tal esperada alta, pelo menos alta do hospital, porque dali iríamos direto para São Paulo.

A Dra Joana Maria, GastroPediatra em Porto Velho, conseguiu em um curto espaço de tempo a nossa consulta no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP, ganhamos alta no dia 18/03/2019 e viajamos para São Paulo no dia 19/03/2019, com nossa consulta, agendada para 21/03/2019.

Ao chegarmos no Instituto, passado a triagem, a suspeita de artresia biliar ainda pairava, visto que o meu bebê estava defecando verde. Novamente exame de ultrassonografia para verificar as vias biliares, pois se ficasse detectado a artresia, seria necessário cirurgia. Essa só é feita ate os 3 meses de idade. Após esse período, seria necessário transplante. Passamos o dia no Instituto, entre exames de sangue e o encaixe para a Ultrassonografia. Muita oração e o resultado, apesar de satisfatório, mostrava “Artéria hepatica proeminente, um achado inespecífico. Restante da ultrassonografia de abdomen total sem alterações significativas (os achados não preenchiam todos os critérios para atresia de vias biliares).

Com esse resultado, podemos descartar a artresia e nos exames de sangue veio o diagnostico: CMV – CITOMEGALOVIRUS. A preocupação, naquele momento era saber se havia afetado o fundo de olho, passamos por Hepatologista, Infectologista, Oftalmologista. Feito exame, com o encaixe que os médicos conseguiram, nada constava, até a icterícia já estava baixando assim como a bilirrubina. E no dia 22/04/2019, ganhamos nossa alta, estávamos pronto para volta para casa. No total, foram 72 dias de luta, oração, fé, superação e a certeza de que somos forte para vencer qualquer obstáculo que possa surgir.

Valentim é um Valente, Guerreiro e de uma boa sorte tremenda. Pois desde o inicio, nunca ficou desamparado, por mais difícil que a situação se mostrava, o resultado vinha de imediato. Agradeço a toda equipe da UTI NEO NATAL do Hospital de Base Ary Pinheiro em Porto Velho, pois sem eles, sinto que não conseguiria suportar todo aquele período. Percebia o carinho, o cuidado, a atenção que eles tem com os pequenos que ali ficam hospedados.

Sou grata pelos amigos em Porto Velho, que foram minha base, em oração, apoio quando estava no hospital e todo recurso que nos deram quando fomos para São Paulo. Após tudo o que passamos, no dia 22/04/2019, a nossa tão esperada volta para casa.

Espero que o meu relato possa servir de força e esperança para muitas outras famílias.

Úrsula e equipe prematuros.com.br

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