Modulação Sensorial

Queridas famílias, espero que todos estejam bem.
Existem alguns termos dentro da Teoria de Integração Sensorial de
Ayres que são bem técnicos e específicos. Entretanto, quando pensamos nos
bebês e crianças prematuras e suas particularidades sobre o processamento
das sensações, precisamos conhecer deste assunto para estarmos atentos às
suas reações frente às demandas sensoriais e potencializar sua interação com o Outro e com ambiente.



Por isso, o objetivo deste texto é explicar brevemente aos pais e
familiares, o que é “Modulação Sensorial” e por quê essa função é tão
particular à prematuridade.
Vamos lembrar que a integração das sensações é de extrema
importância para que os bebês e as crianças possam aprender sobre o mundo,
brincar e socializar com qualidade. Nós conhecemos o mundo através dos
nossos sentidos: paladar, olfato, audição, visão, tato, propriocepção e
vestibular (movimento). Aqui no site vocês encontrarão textos que falam um
pouquinho sobre os 7 sentidos e como nos desenvolvemos e aprendemos com
eles.




Colocar todas as informações que “chegam” ao nosso cérebro para
trabalhar juntas, integrá-las, combiná-las e discriminar, nos permite participar
de atividades, mover-se pelo mundo e interagir com sucesso. Hoje vamos falar
um pouquinho sobre o início desse processo de Integração Sensorial que se dá
pela função da Modulação Sensorial.
Modulação Sensorial é a habilidade do Sistema Nervoso Central de
ajustar a intensidade e a duração de um determinado estímulo ou de múltiplas
sensações. Isto é, quando recebemos um estímulo tátil, como por exemplo, um
toque, nosso cérebro precisa registrar essa sensação que chega pelos
receptores da pele e enviá-la às partes superiores do Cérebro. A Modulação é uma função crítica, pois funciona como um “filtro”, um “volume”, que regula essa informação deixando “entrar” (excitação celular) ou não… inibindo as sensações que não são relevantes naquele momento, coordenando processos de excitação e inibição celular.
Com o processo de desenvolvimento, as crianças amadurecem suas
percepções, a função de modulação e discriminação. Seguindo com o exemplo da informação tátil, podemos, em um determinado momento do
desenvolvimento, saber a diferença entre um inseto que pousou no nosso
braço ou uma pessoa tocando nossas costas para nos chamar sem precisar
olhar para esse estímulo. A modulação é uma função individual que nos “diz” o quanto dessa informação é necessária para sentirmos. Será que se pousar uma leve borboleta ativando poucos receptores na pele, todos nós sentimos?
Ou apenas as pessoas mais “sensíveis” ao toque? Será que, apenas encostar
a nossa mão nas costas de alguém é o suficiente para chamá-la? Ou
precisamos repetir o toque? Ou ainda, colocar uma leve pressão para chamar atenção desta pessoa? A resposta é: depende! Depende da pessoa que está sendo tocada…se ela é mais ou menos reativa.

A reação às sensações, ao toque por exemplo, dependerá da
Modulação individual de cada um. Será que sentimos as mesmas coisas? Por
um lado, sim…um carinho é um carinho, uma picada de mosquito é um
estímulo tátil diferente do que o toque de uma pessoa, uma massagem é
diferente de uma mudança brusca de temperatura na pele…. A intensidade e a
interpretação do sujeito são particulares, dependem da experiência de cada um
e do desenvolvimento pessoal dessas funções.
Por isso, quando falamos de Modulação, devemos compreender
também o conceito de reatividade sensorial, que é a expressão da Modulação
no comportamento de cada um de nós. Existem pessoas que são HIPER-
reativas, isto é, ao mínimo de input de movimento por exemplo, essa pessoa já
registra e sente – prazer ou não. Por outro lado, existem as pessoas HIPO-
reativas, ou seja, pessoas que precisam de uma intensidade maior do estímulo
para registrar e discriminar esse input. Por exemplo: alguns bebês se acalmam
no colo dos pais quando são abraçados e caminhamos lentamente com eles
nos braços. Outros bebês, precisam de estímulos mais intensos, se acalmam
quando abraçados no colo “bem apertadinhos” no abraço, balançando-os de
um lado ao outro num balanceio rítmico. Essas são características/perfil da
reatividade sensorial de cada um de nós.
A disfunção de modulação pode ser avaliada quando há um
desequilíbrio entre o contexto ambiental e a demanda pessoal do indivíduo.
Alguns bebês e crianças apresentam dificuldade em manter o processo de
Modulação dos estímulos num “Nível Ótimo” de alerta afetando atenção,
controle emocional, regulação do comportamento e interação social.
O Sistema Nervoso Central trabalha a favor da homeostase (equilíbrio
das sensações principais do corpo como pressão, temperatura, respiração e
outros). Quando há alterações no ambiente como som alto, luz intensa, odores
fortes, etc., o corpo vai pouco a pouco se ajustando para retomar sua
homeostase modulando essas sensações (excitando algumas e inibindo as
informações irrelevantes). Tudo isso depende de um corpo e do seu
processamento saudáveis.

Auto-regulação é a capacidade de monitorar seu próprio
comportamento, por isso, os pais e cuidadores são os co-reguladores dos
bebês e das crianças sobretudo das que apresentam alterações no
processamento sensorial. A auto-regulação é a habilidade para atuar conforme
a demanda, iniciar e finalizar atividades, brincadeiras, modular ações verbais e
motoras. É um processo contínuo: capacidade de se adaptar nas rotinas
diárias, permanecer organizado durante as atividades, consegue dividir
atenção entre duas ou mais tarefas, capacidade de manter homeostase sob
demandas ambientais variadas.
No caso da prematuridade, não é diferente no que se refere a forma
como o bebê passa a interagir com os pais na oferta do alimento, nos jogos
afetivos e sociais, olhares, carinho, balanços no colo, banho, higiene,
cantarolar uma música, etc. Mas é extremamente importante aprender a
observar seu bebê, olhar suas reações e como se comporta frente aos
estímulos do ambiente para que se possa, pouco a pouco, na inter-relação,
construir laços entre a necessidade sensorial do bebê e a demanda/forma
como seus cuidadores a oferecem. A realidade do desenvolvimento dos
processos sensoriais do bebê prematuro tem suas particularidades, fruto da
imaturidade neurológica, da privação de experiências ambientais e da recepção
de informações sensoriais que não eram “esperadas” ou sonhadas para as
primeiras horas e dias de vida. As particularidades da Integração Sensorial no
início da vida do prematuro, a forma como esse bebê pode expressar suas
necessidades podem não ser compreendidas em sua essência pela família e
equipe. Há uma prevalência de comportamentos hiper-reativos às sensações
(de toque, diferentes texturas, alimentação, sons, etc), por causa do seu
funcionamento sensorial ainda em desenvolvimento e bombardeado em um
histórico de inputs dolorosos e pouco estimulados na vivência de UTI Neonatal.
Como proceder? Observando as reações e particularidades do seu bebê
e criança. O que parece um comportamento “desregulado” ou com
características de hiper-reatividade?

  • A criança pode ficar facilmente hiper-estimulada durante eventos
    típicos: por exemplo, ao brincar em atividade motora ficar extremamente
    excitada, aumentar significativamente nível de atividade motora e verbal e ter
    dificuldades em se acalmar sozinha.
  • Irritabilidade excessiva, agitação do bebê no dia a dia
  • Bebês que permanecem hiper-alertas ou letargia excessiva/dispersão
  • Dificuldade de consolar durante choro, fome ou situações de
    desconforto
  • Intolerância às mudanças de rotina e horários do dia a dia
  • Dificuldade de manter interações sociais. Precisam de mais mediação
    do adulto do que outras crianças.
  • Problemas de alimentação – restritivos ou seletivos
  • Atrasos no brincar e na exploração do ambiente porque não dão conta
    da exploração sensorial ou com o corpo no ambiente, no espaço e em relação
    aos objetos que são próprios do universo infantil
  • Comportamentos do bebê e da criança que geram restrição no estilo de
    vida da família: deixam de ir à restaurantes que costumavam ir porque a
    criança não come; não vão às festas em buffet infantil porque a criança fica
    irritada ou incomodada pelo barulho intenso e acúmulo de pessoas num
    ambiente fechado, etc.

Nesse breve texto procuramos explorar um pouco os processos de
Integração Sensorial e as particularidades do prematuro. Fique atento pois,
certos comportamentos são comuns a esses bebês e crianças, e os pais, com
conhecimento e apoderando-se de informações corretas sobre o
desenvolvimento, serão capazes de promover experiências e interações de
qualidade, conforto para seus filhos e com isso promover momentos de
aprendizagem.
Caso vocês estejam inseguros com algum comportamento ou
reatividade sensorial do seu filho, esteja com dúvidas ou algo que chame a sua
atenção em que precisam adaptar e/ou mudar o ambiente e a rotina de forma
significativa com seu filho (a), converse com seu Pediatra sobre
Processamento Sensorial e procure um Terapeuta Ocupacional especializado e
como sempre, Teresa e eu estamos sempre a disposição para tirar dúvidas e
trocar informações.
Um forte abraço,

Ana Luiza Andreotti e Teresa Ruas

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