O ganho de peso e a alimentação: paranóias de pais de crianças prematuras extremas.

Se você leitor e/ou seguidor deste blog for pai ou mãe de uma criança prematura extrema, compreenderá imediatamente a paranoia e a preocupação que nos persegue, desde o nascimento de nossos filhos, para o ganho de peso e para garantir uma alimentação adequada e rica.O ganho de peso é muito demorado e muito difícil em muitas crianças prematuras extremas. E esta realidade começa ainda lá na UTI Neonatal, não é mesmo? Para alcançarem o seu primeiro quilo é uma eternidade…Tenho certeza de que sou traumatizada com o peso e não tenho nenhuma vergonha ao dizer e afirmar isto.Quando a Maitê Maria começou a comer papas doces e salgadas no almoço e no jantar, pensei: “agora ela engordará rapidamente”! Mas que nada! O processo continuou lento… Para engordar 300 gramas por mês, dali comida enriquecida de nutrientes.Porém, a causa que me motivou a escrever este post foi para demonstrar que muitas vezes são os nossos traumas sobre “o peso” que devem ser verificados e, não, necessariamente acharmos que este processo mais lento e demorado de ganho de gramas em gramas é um sério problema.A lógica é bem objetiva, como diz o querido pediatra de Maitê Maria: a criança está crescendo? A circunferência craniana está aumentando? Se a resposta for positiva, tudo bem este processo longo e demorado para o ganho de umas graminhas a mais.  Os estudos em pediatria, com crianças prematuras extremas, verificam, com alta frequência, que o peso é um dos últimos aspectos a se normalizar. Por isso mesmo é que são feitas as curvas de ganho de peso com a idade corrigida, apesar destas crianças já terem um padrão de alimentação de acordo com a idade cronológica.No entanto, tenho que assumir: mesmo sabendo de tudo isto, minha preocupação com a alimentação e com o ganho de peso são bem frequentes no dia a dia com minha filhota. Quando Maitê Maria se alimenta bem, meu dia é bem mais leve e, quando não se alimenta bem, meus cabelos brancos aumentam em minha cabeça.O fato é que tenho percebido algumas mudanças positivas na relação entre Maitê Maria e os alimentos. Gostaria de compartilhar algumas percepções com vocês, como mãe de uma prematura extrema e especialista em desenvolvimento infantil.

Preferi numerar as minhas percepções e alguns conhecimentos. Seguem abaixo:

1-    Temperos NATURAIS fazem toda a diferença! Tenho que afirmar que relutei em colocar temperos. Queria que  Maitê Maria sentisse o sabor “próprio” de cada alimento, como uma forma de estimular o seu paladar. Lógico que esta preocupação em permitir que a criança experimente os diversos sabores dos alimentos deve ser mantida, até porque estão na fase de desenvolverem o paladar. Porém, temperos naturais não prejudicam o sabor. Pelo contrário, podem realçá-los, além de serem importantes fontes de nutrientes.  
 2-    A FEIRA é o melhor lugar para a compra de alimentos e temperos. Nunca imaginei escrever isto, mas atualmente sou uma frequentadora oficial de feiras. As frutas são mais macias e mais doces. Os legumes e as verduras não têm tantos agrotóxicos.
3-    Uma pitadinha de sal não faz mal a ninguém! Observei uma relação direta entre o aumento qualitativo de colheradas ingeridas por Maitê Maria e “pitadinhas” de sal em suas refeições. O fato é que pitadinhas de sal realmente deixam o alimento mais saboroso e isto não causará problemas para a saúde da criança. Só precisamos compreender que pitadas são pitadas e nada a mais do que isto!
4-    Na fase em que a criança começa a observar tudo o que você faz e tenta te imitar, fase na qual Maitê Maria se encontra, almoçar e jantar em família faz toda a diferença. Ao olhar a mãe ou o pai comer, Maitê Maria se motiva a comer também. Por isso, os cadeirões de alimentação devem ter um espaço especial na mesa das refeições. Além de ser uma causa de maior motivação alimentar para várias crianças é um momento importantíssimo para a convivência afetiva e social em família e, também, de aprendizado dos hábitos e da rotina alimentar da mesma.
5-    Frutas amassadinhas pelo garfo ou frutas amassadinhas pelos próprios dedinhos de Maitê Maria? A preferência é comer frutas com as suas próprias mãos. O bebê precisa realmente colocar as mãos nos alimentos, pois é importante sentir as diferentes texturas, observar as diferentes cores e formatos e terem a autonomia de colocarem, sozinhos, o alimento na boca. É um grande e importante aprendizado. A sujeira faz parte deste aprendizado e deve ser permitida! Lógico que em dias de correria, a conversa é outra, mas é importante garantir estes momentos para a criança, com a devida supervisão de um adulto, principalmente, para evitar grandes pedaços e possíveis engasgos.
6-    Dar tempo e ter calma nos momentos das refeições é imprescindível. Crianças prematuras extremas podem ter mais resistência às diferentes texturas e sabores dos alimentos. Normalmente, isto acontece, pois elas ficaram muito tempo entubadas, depois com CPAP e não tiveram as primeiras experiências para sentirem o gosto e a textura do leite materno, como uma criança nascida a termo e sem complicações. Tudo isto interfere no desenvolvimento e na “sensibilidade” oral.  Por isso, fazer caretas, ter ânsia, rejeitar o alimento novo é um comportamento normal e que deve ser respeitado. O problema surge quando estes comportamentos não diminuem de jeito nenhum, ocorrendo também diante de alimentos conhecidos pela criança. Diante disto, o pediatra deve ser informado para que se possa, por exemplo, indicar um trabalho com a fonoaudiologia e/ou terapia ocupacional com a abordagem da integração sensorial.
7-    Ser mãe é ter certeza de que temos várias paranoias! A alimentação e o ganho de peso continuam sendo uma frequente preocupação para mim e, tudo bem! Cada mãe com suas loucuras. Só não podemos passar isto para a criança como se ela fosse a causadora oficial de nossas caraminholas. Por isso separar o que é nosso e o que são dos nossos filhos é um caminho importantíssimo para a saúde afetiva de toda família.

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