O que é definido por óbito perinatal?

Esse termo se refere ao falecimento do bebê durante a gestação, no parto ou poucos dias depois do nascimento.

Por definição perda gestacional seria qualquer óbito após as 22 semanas de gestação ou de bebê com peso igual ou maior de 500g. 

Não quer dizer que se a perda ocorrer antes disso, ela não terá repercussões importantes para família. Ela poderá ser extremamente dolorosa, dependendo da forma como os pais já antecipavam e sonhavam com esse bebê. (A vivência é sempre muito singular de cada família, de cada pessoa). Segundo definição do Ministério da Saúde, antes disso seria considerado um aborto espontâneo. Mas para gente, essas perdas no início da gestação, assim como também a própria dificuldade para engravidar (tratamentos de fertilização frustrados) devem também ser incluídos nesse termo, para que possamos pensar sempre em formas de acolhe-los melhor. Todas essas perdas precisam ser faladas para que possamos evoluir no seu acompanhamento.

O importante é que nunca devemos tentar comparar (muito menos subestimar) nenhum tipo de sofrimento. Como o grupo “Do luto à luta” nos alerta: “Dor não se compara, se ampara!”.

A morte perinatal é uma morte que vem onde era esperada a vida, ela inverte a ordem das gerações (os mais velhos deveriam morrer antes!) ela interrompe os sonhos, junto com esse bebê morre tudo que sonharam para ele e com ele. 

É uma morte num período que os outros familiares e amigos ainda não tinham necessariamente vínculo com o bebê, o bebê não tinha uma existência compartilhada com outras pessoas. Por isso é comum que as pessoas esperem que os pais “fiquem melhor” logo. Esperam um período de tristeza, mas acreditam que tem que se refazer, não atribuem o mesmo “status de morte de filho”, como se esse bebê que morre “cedo” pudesse ser substituído. 

– Quais cuidados que devemos ter com a mãe que perdeu seu bebê? 

Essa perda precoce é muito doída para todos, pois um bebê que estava sendo gestado é acompanhado por muitos sonhos, muitas projeções. A interrupção desses sonhos pode ser muito traumática, dificultando inclusive a entrada no trabalho de luto. Eles não perdem apenas os filhos, mas precisam se desfazer de todos os sonhos que fizeram. É comum que esses pais se sintam culpados de alguma forma (mesmo que não tenha nenhuma forma de ter sido evitada).

A mãe precisa entrar em contato com a dor da perda, as vezes na tentativa de poupar essa mãe de mais sofrimento dificultamos o contato dela com sua experiência e isso dificulta a entrada no processo de luto.

Costumamos falar que não tem atalho para o trabalho de luto, ele é sofrido, doído, mas ainda sim é o caminho mais saudável.

Sempre é importante deixar os pais decidirem como querem fazer para se despedir do filho, o protagonismo é deles, não devemos supor o que é melhor para eles, devemos perguntar. Desde a maternidade (Querem vesti-lo? segurá-lo?) até após a alta. 

Precisamos dar as opções para a mãe (e para o pai), deixá-los decidir sobre o que fazer com os pertences do bebê, o quarto (vai guardar?vai doar? vai deixar onde está para decidir depois?). 

Esses pais precisam receber um suporte emocional adequado, precisam de muito respeito e o tempo que necessitarem para começar a se adaptar com a nova realidade que surge com a perda gestacional. A presença de uma rede de apoio junto aos pais é extremamente importante, podendo ajudar também a avaliar a necessidade de um acompanhamento profissional quando preciso de apoio especializado. Um psicólogo ou a participação em grupos de pais enlutados podem ajudar nesse trabalhosos processo de readaptação. 

Como a família e amigos podem ajudar? Existem palavras que devem ser evitadas?

Esse apoio é muito importante, eles podem ser presença amorosa para esses pais. Ajudá-los a decidirem o que querem fazer e ajudá-los a executar, sempre respeitando o que esses pais querem. 

É importante reconhecer a presença de um “espaço” para esse bebê mesmo depois da morte. Falar dele pelo nome, não precisa virar um “tabu”, um assunto proibido. Porque não falar do bebê, “fingir que nada aconteceu” isola os pais em sua dor, não dá espaço para poderem falar como se sentem e assim irem elaborando aos poucos tudo que aconteceu.

Devemos evitar frases que possam deixá-los se sentindo culpados (Vocês não perceberam nada de errado? Você trabalhou muito, né? Devia ter tido filho mais nova. etc…)

Também devemos evitar frases que comecem com “Pelo menos…” (pelo menos não nasceu com problema, pelo menos foi antes de criarem um vínculo maior, pelo menos vcs tem outros filhos; Pelo menos vcs são novos…) Essas frases mostram desrespeito com a dor que os pais sentem, como se a morte prematura fosse a melhor opção. Não são as pessoas a volta que devem fazer essa interpretação. 

Sempre evitar falar que poderão ter outros filhos porque são novos ou que deverão tentar adotar. Essas falas trazem muito sofrimento pros pais. e o tempo será essencial para poderem voltar a pensar nas possibilidades. Muito importante respeitar o tempo dos pais, não cobrá-los de nada, alguns precisam de mais tempo e tudo bem. A morte de um filho não pode ser superada, os pais vão ter que aprender a viver com essa ausência. 

– Como são essas situações para o pai (o homem)? O luto é diferente?

Pelas questões culturais, normalmente os homens têm mais dificuldades para expressarem seus sentimentos e se cobram de ser apoio para sua companheira. Muitas vezes não se permitem se mostrar mais fragilizados. Isso pode levar a um afastamento grande entre o casal, pois é comum a esposa achar que o homem é insensível ou que não está sofrendo tanto, quando na verdade ele só não consegue demonstrar, porque acha que precisa ser forte.

Isso não quer dizer que os pais não sofram, pelo contrário. Isso pode acabar os deixando angustiados e levando até uma somatização ou busca de válvulas de escape (bebida, excesso de trabalho ou exercício…), por não conseguirem lidar com seus sentimentos.

 É importante entender que os pais também precisam de apoio. Os homens naturalmente já têm mais resistência de procurar ajuda, então precisamos ajudar esse pai a entender o que sente e a falar sobre isso. Homens também tem depressão e outros transtornos! As taxas de suicídio entre homens (Mais de 95% dos suicídios são em homens!) nos alertam como não podemos negligenciar a saúde mental masculina.

– Qual a importância de reconhecer o luto dessa perda e essa mulher  como mãe e esse homem como  pai?

Reconhecer o luto é algo extremamente importante, pois é uma perda muito grande com grandes impactos na vida de todos. Precisamos entender que esses pais precisam de tempo, respeito e apoio para viver com essa ausência para sempre. 

O vínculo com o bebê não pode ser medido pelos dias que viveu ou foi gestado. Esses pais são pais, mesmo que sem um bebê vivo. 

– O que significa “bebê arco-íris”? Ele pode vir de uma adoção?

Bebê arco-íris é o bebê que vem após uma perda perinatal. Chamamos assim porque seria a alegria e as cores após uma tempestade. essa alegria e cores podem vir por adoção sim, com certeza e pode mesmo nem ser um filho, mas algum projeto novo que traga alegria e ajude a ressignificar essa perda de alguma forma (como um livro, uma arte, fundação de um grupo de apoio…). Muito importante pontuarmos que o bebê nunca será substituído por nada, ele não vem para ocupar o vazio deixado pelo outro filho que não viveu. cada criança terá que ter um espaço próprio, um amor diferente. 

Texto: Helena e Paloma- Psicólogas, fundadoras do @iniciodavida e parceiras do @prematurosbr

Compartilhar:

Deixe um comentário