O sentido sensorial da visão e sua inter- relação com o desenvolvimento infantil: uma medida de proteção à saúde ocular de prematuros

A visão é o mais sofisticado e objetivo de todos os sentidos. Ela fornece o relato mais minucioso do mundo externo, registrando simultaneamente posição, distância, tamanho, cor e forma; uma síntese imediata dos acontecimentos, objetos de interesse e pessoas que estão ao redor.

 Essa síntese imediata dos acontecimentos ocorre diante de um funcionamento visual, que envolve um processo neurológico complexo e diferentes funções, como: reação a luz (capacidade de localizar a fonte de luz), fixação visual (habilidade em dirigir o olhar para determinado ponto e mantê-lo dessa forma), seguimento visual (habilidade de seguir o objeto em movimento em diferentes trajetórias), acomodação visual (habilidade de ajuste visual para focalizar objetos a diferentes distâncias),   acuidade  visual (medida da resolução visual/capacidade para discriminar detalhes), sensibilidade ao contraste (capacidade de detectar diferenças de brilho entre duas superfícies adjacentes), campo visual (espaço específico percebido pelos olhos), adaptação visual (habilidade de enxergar ambientes com diferentes graus de iluminação), visão de cores (habilidade em preferir, discriminar/parear e identificar cores/tonalidades), coordenação binocular (coordenação simultânea das imagens captadas pelos dois olhos, causando a percepção de profundidade e noção de distância) e a percepção visual (habilidade de reconhecimento da direção, da forma, da textura e do movimento).

 A visão desempenha, portanto, um papel fundamental nos primeiros anos de vida pois, além de ser um sistema que permite ao lactente interagir com o meio externo, é um estímulo motivador para a comunicação e realização/direcionamento de ações e movimentos, intervindo de forma decisiva no processo de desenvolvimento de uma criança.

A visão, não apenas estimula o desenvolvimento visuomotor, mas também é um instrumento que acentua as habilidades mentais, um construtor de conceitos espaciais, um instrumento quando se adquire a linguagem e um meio para desenvolver as relações emocionais.

No entanto, a visão não funciona de forma isolada, constituindo uma das fontes de informações para a criança em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Está estritamente correlacionada com outras atividades sensoriais, particularmente com o tato e a cinestesia que permanecem também, como importantes fontes de informação.  A visão interfere, portanto, no desenvolvimento dos sistemas sensorial e motor e nos aspectos cognitivo e sócio-emocional.

A visão está presente ao nascimento, no entanto, os aspectos fisiológicos, anatômicos e neurológicos da visão, ainda não se encontram plenamente desenvolvidos, sendo ainda imaturos. Parte deste desenvolvimento ocorre muito rapidamente, visto que é justamente nos primeiros meses de vida, que ocorrem importantes modificações no comportamento visual de todo lactente; modificações estas que sofrem influências de fatores de maturação neurológica e de experiências ambientais.

Sendo assim, desde muito cedo, assim que abre os olhos, o bebê olha ao redor ou busca uma fonte de luz. Rapidamente, ele tenta estabelecer o contato de olho e logo depois esboça tentativas de visualizar sua mão. Essa atitude visual dá início ao desenvolvimento da visão e à descoberta do mundo que o rodeia. Em pouco tempo, ele tentará agarrar o objeto que visualiza e, assim que conseguir, trará o objeto para a boca e para perto dos olhos. Assim, o bebê constrói suas percepções a respeito dos objetos, sua forma, tamanho, cor, sons e movimentos que podem produzir. Essa atenção visual para a face do adulto e para os objetos ao seu redor, são os propulsores para o desenvolvimento da aprendizagem motora, cognitiva, social/comunicativa e afetiva. Portanto, o cuidado com a saúde ocular dos bebês, a prevenção e tratamento de qualquer alteração é de fundamental importância.

Para nossos bebês prematuros, de acordo com o Conselho Federal de
Medicina, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de
Oftalmologia Pediátrica e o Conselho Brasileiro de Oftalmologia os bebês que nascem com peso de nascimento menor que 1.500 gramas e/ou idade
gestacional menor que 32 semanas devem ser examinados por oftalmologista especializado entre a 31ª e 33ª semana de idade gestacional e, no seguimento desses bebês, a frequência das avaliações oftalmológicas, é determinada pelos achados do primeiro exame.      

Essa avaliação é realizada para acompanhar o desenvolvimento da retina do bebê, prevenir alterações e tratar o mais precocemente possível a retinopatia da prematuridade, quando essa estiver presente.

A maioria dos bebês prematuros, não desenvolverá a retinopatia da
prematuridade, mas poderá desenvolver outras alterações visuais como
estrabismo e erros de refração. Essas alterações são diagnosticadas por
oftalmologista especializado e podem ser tratadas desde os primeiros mesesde vida, garantindo um adequado desenvolvimento da visão na maioria doscasos. Assim, destaca-se a importância do seguimento oftalmológico dos
prematuros, pelo menos a cada 6 meses. No entanto, dúvidas sobre o
desenvolvimento visual dos bebês podem ser relatadas ao pediatra, a qualquer momento, e ele realizará uma avaliação inicial e fará os encaminhamentos necessários ao oftalmologista, visto ser este o profissional que poderá avaliar e indicar o melhor tratamento.


Mas como essas dúvidas podem surgir?


Os pais podem observar se o bebê estabelece o contato de olho, se o bebê se
interessa em dirigir os olhos para a face dos pais, se ele sorri em resposta ao
sorriso dos pais, se ele se interessa em olhar para os brinquedos que lhe são mostrados, se ele acompanha com os olhos os movimentos de um objeto, se
ele tenta levar as mãos em direção ao brinquedo apresentado a ele ou a um
móbile, se ele observa visualmente as próprias mãos. Um bebê também
demonstra que está usando sua visão quando, ao olhar para um objeto,
movimenta as perninhas ou leva as mãos à boca. Um bebê que usa seus olhos para explorar o ambiente, quando deitado de bruços, tentará manter a cabeça elevada, o que também constitui um indicativo do interesse em olhar. Todas essas condutas são observadas durante os 3 ou 4 primeiros meses, e são importantes indicativos do uso da visão. É comum também, até por volta dos 6 meses, que os bebês desviem um ou ambos os olhos quando tentam olhar para um objeto próximo. Mas, a partir dos 3 meses, esses desvios ocorrem apenas ocasionalmente e, se forem constantes, o oftalmologista deve ser consultado.


Tanto o desvio ocular como os erros de refração, podem ocorrer em um ou em ambos os olhos e, se não corrigidos, podem trazer prejuízos para o
desenvolvimento do bebê.

Como vimos, a visão se desenvolve rapidamente nos primeiros meses, o que
reforça a importância da avaliação oftalmológica diante desses sinais. Um bebê prematuro, poderá não demonstrar interesse em usar os olhos, por ter, por exemplo, um erro de refração chamado hipermetropia, que prejudica a visão para perto. Em muitos casos, a prescrição de óculos pelo oftalmologista, resolve o problema e dá ao bebê a possibilidade de usar e desenvolver a visão.

Texto escrito e elaborado pela Dra Teresa Ruas em sua Dissertação de Mestrado-  Avaliação do Comportamento Visuomotor de Lactentes Nascidos Pré Termo durante o Primeiro Trimestre de Vida: Medida para a Proteção da Saúde Ocular, São Carlos, Universidade Federal de São Carlos,  UFSCar, 2006- e pela Dra Heloísa Gagliardo, terapeuta ocupacional e integrante da equipe interdisciplinar @prematurosbr com sua Dissertação de Mestrado- Investigação do comportamento visuomotor do lactente normal no primeiro trimestre de vida. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997- e Tese de Doutorado –Avaliação de funções visuomotoras em lactentes a termo pequenos para a idade gestacional no primeiro semestre de vida. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003-, entre outros artigos de autoria das mesmas profissionais.

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