Vírus Sincicial Respiratório: É tempo de prevenir

Maite Maria e seu pai visitando o Lucca na UTI.
Imagem: arquivo pessoal, proibido uso sem autorização.

Estamos vivendo um tempo em que a prevenção dos vírus respiratórios é uma das formas mais eficazes de proteger todos os nossos bebês em seus primeiros anos de vida, especialmente as crianças consideradas de risco, tais como os nossos prematuros, prematuros com a broncodisplasia (doença pulmonar crônica da prematuridade, muito frequente em bebês que nascem com menos de 28 semanas gestacionais) e os cardiopatas congênitos.  

Sabemos o quanto um vírus respiratório pode ser altamente contagioso. Estamos vivendo um cenário de pandemia mundial e de forma muito impactante em nosso cotidiano, não é mesmo? E juntamente com essa pandemia, estamos entrando em um período de maior circulação- sazonalidade- de um dos vírus mais temidos por pais de prematuros, bebês de risco e/ou crianças com até 2 anos de idade: o vírus sincicial respiratório-VSR-. Sabe-se que o VSR é grande causador de bronquiolite e pneumonia em nossos pequenos, sendo um dos grandes responsáveis pela internação hospitalar de crianças pequenas e reinternação hospitalar de prematuros ou crianças de risco, após a alta de uma UTI Neonatal, diante de quadros respiratórios graves.  

Em um texto passado eu falei sobre a importância da restrição e/ ou da proibição de visitas a recém-nascidos, prematuros e bebês de risco como uma das formas mais potentes de prevenir o contágio e a transmissão do VSR. Somente para lembrar: a transmissão do VSR ocorre por meio do contato com a secreção respiratória de pessoas gripadas/ doentes e que pode estar presente nas mãos, face, roupas, objetos; contaminando o bebê/ criança pequena pelo toque, beijo e contato mais direto com o mesmo.   

Porém, além da restrição ou proibição das visitas, algo tão rotineiro na vida social de uma família prematura, existem outras formas de prevenção ao vírus sincicial respiratório e que devem ser colocadas em prática, concomitantemente, com a restrição das visitas.

Puxa, mas um vírus respiratório precisa de tantas medidas de proteção assim? Precisa, pois o VSR pode causar a morte de bebês e de crianças pequenas, além de ser o grande causador de 80% das bronquiolites e 40% das pneumonias em crianças de até 2 anos de idade, especialmente as de risco, como já pontuado acima.

Portanto, juntamente com a restrição das visitas devemos: lavar bem as mãos e higienizá-las com álcool 70%, antes de tocarmos em nossos bebês; evitar ambientes aglomerados e fechados, tais como shoppings, restaurantes e supermercados; evitar o tabagismo passivo; manter a casa arejada e limpa; evitar escolas e creches no período de sazonalidade ; não ter conato com pessoas gripadas/ doentes e a imunização.

Pais de prematuros, assim como eu e meu marido, já saímos da UTI Neonatal com os pontos acima decorados e internalizados. Sabíamos que o isolamento social e todas as nossas medidas de prevenção em casa poderiam significar muita saúde para os nossos filhos. Sabíamos que lavar as mãos e passar álcool 70% antes de tocar em nossos bebês, mesmo não permeando ambientes aglomerados, era de extrema importância, pois nós adultos podemos ter o VSR e não demonstrarmos nenhum sintoma de gripe ou resfriado. O mesmo vírus que pode causar dificuldade para respirar, chiado no peito e insuficiência respiratória em bebês, especialmente nos de risco, como meus filhos, pode não causar absolutamente nada em adultos. Lavar as mãos e higienizar com álcool 70% não é um comportamento neurótico de pais de UTI Neonatal, como sempre afirmo em meus textos sobre esse assunto. É antes de tudo uma forma valiosa de prevenção.

Para nós pais de prematuros, saber que nós próprios podemos passar o VSR para nossos bebês é extremamente angustiante. Lembro-me do meu desejo em ter um aparato de álcool 70% atrás de mim e do meu marido, esborrifando álcool por todas as partes da casa, enquanto estava com minha filha, nascida de 23 semanas e 1 dia, com a doença pulmonar crônica da prematuridade, em meus braços. Porém, esse aparato não seria possível (risos)!

O aparato que esborrifa álcool não existe mesmo! Mas existe a IMUNIZAÇÃO dessas crianças para tranquilizar os pais de prematuros/bebês de risco e evitarmos ao máximo que o VSR possa provocar uma insuficiência respiratória em nossos pequenos.

Maite Maria e Lucca brincando em casa.
Imagem: aquivo pessoal, proibido uso sem autorização.

IMUNIZAÇÃO para o VSR? Sim!

Quando falamos a palavra imunização, já nos vem a caderneta de vacinação em nossas mentes, não é mesmo? Na verdade, apesar da área da saúde utilizar essa palavra para as campanhas de prevenção contra o VSR, não existe uma vacina para esse vírus, com efeito prolongado ou vitalício. O que existe é um medicamento, composto por anticorpos, ou seja, uma solução extra de células de defesa para os nossos bebês de risco que possuem o sistema imunológico imaturo, para atuar na linha de defesa contra o VSR. E, exatamente por esse medicamento não ser uma vacina e, sim, um anticorpo, ele tem validade, ou seja, ele protege o bebê por um tempo determinado, com o principal objetivo de não ter a expressão mais grave da bronquiolite ou pneumonia. Esse anticorpo tem a duração de 30 dias, sendo recomendado 5 doses para um ciclo completo no período de sazonalidade do vírus.

Minha filha recebeu 2 ciclos completos até o segundo ano de vida pelo SUS – Sistema Único de Saúde-. Sim, o SUS oferece esses anticorpos gratuitamente a: prematuros que nasceram com menos de 29 semanas gestacionais e que estejam no primeiro ano de vida; crianças com cardiopatia congênita até o segundo ano de vida e crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade, até o segundo ano de vida. Como minha filha se enquadrava em 2 critérios- prematura extrema de 23 semanas gestacionais e 1 dia e com a doença pulmonar crônica da prematuridade/ broncodisplasia- recebeu 2 ciclos completos, sendo um no primeiro ano de vida e o outro até o segundo ano de vida.

Lembro-me até hoje, que após a alta hospitalar, íamos todos os meses agendados pela UBS – Unidade Básica de Saúde- mais próxima ao meu endereço. Tive a honra de conhecer um programa que me encheu de orgulho não somente por ser uma mãe de uma prematura extrema, mas uma profissional de saúde que sempre lutou pela melhoria da assistência pública aos bebês de risco. Mesmo já tendo passado 5 anos do recebimento da última dose, lembro-me, claramente do carinho, seriedade e rapidez das enfermeiras na aplicação das doses.

Como Maitê Maria era dependente de O2 – oxigênio-, tínhamos uma vaga especial para estacionar o carro e uma sala especial para espera e aplicação do medicamento. Em poucos minutos, recebíamos a dose e íamos embora. Nunca irei me esquecer desse programa que atendeu e respeitou as particularidades da minha filha, com tanto cuidado e seriedade. Porém, é uma pena que ainda existam crianças que se enquadram nos critérios do SUS e que as suas famílias ainda não saibam da existência dessa campanha, que se iniciou em 2012,  ou que não recebam pelos pediatras as devidas orientações  sobre a importância desse anticorpo e das doses na data marcada pelo programa para a saúde de seus bebês de risco. Textos como esse servem, primeiramente, como conscientização e informação sobre o VSR e todas as formas de proteger os nossos bebês de risco, a fim de atingirmos cada vez mais crianças em nosso país e que têm o seu direito garantido pelo Sistema Único de Saúde – SUS- .

Já o meu segundo filho, Lucca, nascido de 32 semanas gestacionais, não recebeu as 5 doses pelo SUS, por não se enquadrar nos critérios, mas conseguimos recebê-las pelo convênio.  E porque mesmo não sendo um prematuro extremo e de maior gravidade clínica, como a sua irmã, teve a indicação dos anticorpos contra o VSR? Um dos motivos era porque mesmo não sendo um prematuro extremo, havia nascido com menos de 35 semanas gestacionais, apresentando também um sistema imunológico mais imaturo em comparação a um bebê a termo e necessitar de uma proteção ¨extra¨contra o VSR. E o segundo motivo e de grande impacto é que ele tinha uma irmã mais velha, com contato social com outros adultos e crianças e, portanto, com real risco de infectá-lo ao tocá-lo com as mãozinhas sujas de secreção respiratória, beijos no rosto e brincadeiras com objetos que vão para a boca do maior primeiro, para depois apresentá-los para o caçula.

  Neurose de mãe de 2 prematuros ou um pediatra superprotetor? Jamais! Na maioria das vezes, a criança hospitalizada pelo VSR, mesmo com a restrição das visitas em casa, pode ter recebido o vírus dos próprios pais ou dos irmãos mais velhos. Como não havia como eu colocar o meu sonhado aparato para esborrifar álcool 70% no meu segundo prematuro, enquanto a sua irmã mais velha, frequentemente gripada, brincava com ele, a melhor e mais efetiva proteção era receber a imunização contra o VSR.

E se lembram quando eu disse nesse texto sobre esse anticorpo ser uma proteção contra os casos mais graves de uma infecção das vias respiratórias? Falei isso, porque não significa que ao receber o anticorpo que auxilia a evitar o VSR, o bebê não terá bronquiolite ou pneumonia. Lucca, mesmo recebendo as 5 doses indicadas, teve um quadro de bronquiolite e com necessidade de internação hospitalar por 9 dias quando estava com quase 1 ano de idade. Para mim ficou claro que diante de uma irmã mais velha, com gripes frequentes e que não havia como evitar, o tempo todo, o contato entre os irmãos, se Lucca não tivesse recebido durante os seus primeiros 6 meses as doses do anticorpo, poderia ter sofrido um retorno à UTI Neonatal muito mais cedo e com os sintomas muito mais graves.

Portanto, com os meus dois relatos de duas vivências diferentes com a prematuridade, fica muito claro o quanto é importante todas as formas possíveis e valiosas de prevenir que os nossos prematuros se infectem com qualquer vírus respiratório, em especial nesse texto, sobre o tão temido VSR. E se você está com um bebê pequenino em casa, observe nesse período de maior circulação do VSR, comportamentos como: dificuldade para respirar, tosse, chiado, febre… esses sinais precisam ser atendidos prontamente por um pediatra.

No mais, sabemos o quanto a maternidade no traz desafios diários e constantes. Na atualidade, estamos cuidando dos afazeres domésticos, dos filhos, das aulas online das escolas, do trabalho em home office… terminamos o dia exaustas. Sim! Mães sentem um cansaço físico e emocional todos os dias… mas saber que podemos aumentar a segurança e proteção da saúde das pessoinhas que mais amamos, ainda mais quando são crianças prematuras ou com algum fator de risco, não tem preço… até porque sou uma daquelas mães, assim como muitas que estão lendo esse texto, que somente se sente tranquila quando sabe que está fazendo tudo o que está a seu alcance. Um fazer tudo que obviamente é permeado por muitos erros, sentimento de culpa, exaustão, mas com um desejo e a certeza de que estou fazendo o meu melhor, diante das minhas possibilidades e características. Isso, sim, para mim é maternar: fazer o meu melhor, respeitando os meus limites e possibilidades.

Com afeto, Teresa Ruas e Equipe do Prematuros.com.br 

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